quarta-feira, 29 de abril de 2009

Nightmare Man


O pai da Sasha (Luciano Szafir)

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Mais um filme trash de terror produzido nos Estados Unidos

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É igual a Nightmare Man:

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Pela capa até parece coisa de primeira linha, não é? Qualquer dia desses eu preciso assistir isso!

Mais informações em:

http://www.bocadoinferno.com/


sábado, 25 de abril de 2009

Você não bateria num cara de...


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Agora eu uso óculos, haha!


Visita


Uau! Quinze dias sem uma atualização! É assim, a gente vai ficando inerte, inerte, inerte, até que estagna de vez. Mas agora, quase como uma faxineira virtual com o dever de tirar a poeira e as teias de aranha daqui, recebam o meu conto, Visita:

Tarde da noite. Nem sei que horas da noite, mas tarde. A janela entreaberta e a luz forte da lua a penetrar. Minha mãe na cadeira de balanço, balançando, mas dormindo. Sonâmbula. Alguns pedaços de tricô, agulhas e panos esfarrapados sobre seu colo. Eu passava por ali. Ia direto para meu quarto, mas tinha alguém na sala. Parei para ver quem era. Minhas pernas já trêmulas. Adrenalina bombardeada. Mas, calmo. Fingi estar calmo. Devagar, acendi a luz.

Era simpático o rapaz sentado na poltrona. De pernas cruzadas, calça jeans justa e um terno preto. Ele, desde o escuro, tinha os olhos em mim. Já me esperava ali. Sabia que eu ia acordar e tomar um pouco de água na cozinha.

“Estive te esperando por um bom tempo”, disse-me, animado, deslizando os dedos pelo estofado da poltrona.

“Acho que está havendo um equívoco aqui”, eu respondi, ainda fingindo estar calmo.

“Equívoco nenhum.”

Fiquei por um momento tentando rastrear aquele rosto na minha memória. Aquele rosto jovem, mas com um pouco de rugas. Com um toque de velhice. Queria não ser descortês, mas não lembrava. Tinha de perguntar. Para minha segurança, eu tinha de perguntar.

“Realmente sinto muito, mas não sei quem é você.”

“Sei que não me conhece, meu caro amigo. Só eu lembro de você.”

Certo, eu tinha de manter a calma. A pouca calma que fingia ter. Poderia ser um sequestrador, daqueles dos sequestros relâmpagos. Mas eu não tinha dinheiro. Melhor, minha mãe não tinha dinheiro para pagar o resgate. Ele iria cortar cada pedacinho meu e enviar pelo correio de aperitivo. Uma orelhinha, depois um dedo, depois um nariz. Cada coisa por vez. Cada coisa por semana. Certo, eu não preciso me desesperar. Não devo fazer movimentos bruscos. Mas e se ele for um serial killer? Se ele for alguém que nem o dinheiro para. Que só quer mais um corpo na sua mesa de cirurgias? E se ele for apaixonado por mim? Um daqueles admiradores secretos obsessivos? Tenho de me concentrar no telefone. Tenho de me concentrar no telefone. No telefone vermelho, reluzente. Tenho de segurá-lo firme e acertar sua cabeça. Na nuca, para desacordá-lo. Se eu matá-lo, será legítima defesa. Não consigo. Minhas pernas estão tensas demais para se mexer. Perdoe-me, mãe. Eu falhei desta vez. Escorraçar um bandido de casa e não consigo. Desculpe-me. Vou fazer o que ele quiser para tentar permanecer vivo. Espero que Deus tenha piedade de mim. Sei que Deus não tem nada a ver com isso. É, eu sei. Que pelo menos não doa, Deus.

“Você parece nervoso”, ele disse. “Desculpe-me pela maneira que te abordei. Isso de ficar esperando no escuro não foi uma boa ideia, mas sua mãe permitiu que eu entrasse. Vi que ela parecia dormir e apaguei a luz para não incomodá-la.”

Então era isso. A velha agora colocava estranhos dentro de casa. Não bastava os chiliques que ela dava achando que alguém mexeu nos seus tecidos, tesouras, agulhas. Ela, sempre ela. Ela mesma. Só que esquecia do que fazia. Esquecia com frequência. Não esquecia de esquecer. Nunca me incriminava diretamente. Mas passava horas gritando: “Alguém mexeu nas minhas coisas! Quero saber quem foi o maldito bandido!” e ficava olhando para mim. Quando isso acontece, sempre tenho de procurar as velharias da velha. E sempre as encontro nos lugares mais inusitados: pia, geladeira, jardim. Espero não encontrar agulhas na comida.

Ele aproximou-se de mim amigavelmente. Não reagi. Eu era só um corpo que obedecia ao que ele queria. Com aquela mão no meu ombro indicando a direção.

“Tem mais alguém aqui te procurando.”

Mais alguém? Era o carrasco? O executor? Adeus, dias cruéis! Fomos até meu quarto. Meu quarto escuro, frio, desgastado. Meu receptáculo de todas as noites. Arqueei as sobrancelhas, porque suas características mudaram.

“Veja, seu nome é Elisa”, disse o rapaz misterioso, apontando para uma garota que parecia ter aparecido ali depois de um nariz retorcer. Depois de um pó de pirlimpimpim.

Ela, sentada, sorridente, acenou para mim. Disfarçou o riso. Rodopiou na cadeira. Sorriu de novo. Maluca. Com plumas em torno do pescoço. Ela estava feliz. Muito feliz. Rodopiando. Se exibindo para mim.

Meu quarto, redecorado, vivo, cheio de cores, piscas-piscas, globo de luz iluminando um música indecifrável. Meu quarto zumbi, derramando uma urbanidade doentia, do concreto que retém as pessoas em casa. Nós três, lá, aconchegados, no meu quarto. Eu não sabia o porquê. Não precisava de perguntas. Assim que vi Elisa, assim que seu perfume se misturou às minhas coisas, àquelas luzes, eu soube que ela poderia ficar lá. Nós três. Obrigado, rapaz, por ter me apresentado Elisa. Nós três.

“Entre, Ana”, ele falou e interrompeu meu pensamento.

“Entre, Ana”, reforcei.

Ana esfregou suas botas de cano curto no carpete e entrou, tímida. Ria menos por conta da sua timidez. Era linda. Não tanto quanto Elisa, mas ainda sim sublime. Ela se aproximou. Aproximou-se do meu amigo misterioso. Encostou-se em seu ombro. Conhecia meu amigo misterioso e não dava bola para mim. Ainda bem que não, para não causar confusão. Ela dava bola para o rapaz misterioso. Elisa era quem dava bola para mim.

Ai, ai, Elisa. Você aqui e eu não sei nem o que te dizer. Também não quero dizer nada. Não quero estragar as coisas. Já me afundei tanto em palavras que não há mais sentido em repetir isso. Já me afundei tanto querendo explicar detalhe por detalhe, centímetro por centímetro, átomo por átomo dos meus sentimentos para que as pessoas acreditassem. Não precisava mais disso. Era só me deixar guiar pelos teus olhos fugidios. Teus olhos que não param quietos um minuto.

“Vou pegar cerveja para nós”, eu disse. Elisa veio comigo.

Eu me senti bem. Senti-me independente. O rapaz com a sua. Elisa comigo. Era uma noite legal. Elisa pegou a sua, eu peguei a minha gelada. Levamos três: duas para o rapaz, uma para Ana.

A cerveja ótima, no ponto. A espuma boa. A cevada boa. Eu e Elisa calados, encostando o gargalo nos lábios, brincando com a saliva e o resquício de cerveja na boca. O rapaz e Ana conversando freneticamente. Nós quatro sentados na cama. A música rodando. Rodando tão indecifrável quanto o que o rapaz e Ana diziam. Elisa finalmente disse algo. Não entendi:

“Onde fica o banheiro?”

“Hã?”

“Onde fica o banheiro?”, disse mais perto do meu ouvido, com aquele hálito de menta e cerveja.

“Eu te mostro”.

Levantei-me e fui lá, mostrar o banheiro. Era a cerveja fazendo efeito. O rapaz e Ana não olharam para nós. Eles continuaram a conversar. Eram muito legais.

Elisa fechou a porta. Eu fiquei esperando ela ali. Sentia falta. Ficava com medo de que não saísse mais de lá. Demorou um pouquinho. Acho que travou no começo por estar numa casa estranha. Depois escutei o xixi batendo no vaso. Ela demorou mais um instante. Abriu a porta. Sorriu para mim. Olhei seus dentes alvos, seus lábios rosados. Lembrei-me do cheiro de menta e de cerveja que ela bafejou. Aquilo me deixava vivo. E que delícia seria se eu pudesse sentir de novo, mais perto. Se fosse um beijo com aquele bafinho. Eu pensava rápido nessas coisas. Pensava enquanto ela se recompunha do banheiro. Enquanto terminava de enxugar as mãos na calça jeans.

A segurei pelo braço e nós voltamos. O rapaz e Ana a mil. Conversando como antes. Os dois davam pequenos saltinhos na cama quando iniciavam uma frase. Fervilhavam os dois. O rapaz não poderia ser mais denominado de rapaz misterioso. Ele tinha deixado a identidade e alguns trocados em cima do meu criado-mudo. Estavam amassados. Tirou do bolso de trás da calça. Eu olhei. Olhei e ri. Seu nome era João. Não poderia mais chamá-lo na minha cabeça de rapaz misterioso. Ri da foto 3x4. O cabelo dele grande, encaracolado, diferente de agora. Um aparelho nos dentes, uma espinha enorme bem no meio da testa.

“Ei, Elisa, olhe”, eu disse, segurando a foto no alto.

Elisa se aproximou, pôs os olhos próximos e riu. Riu feliz e caiu em cima de mim. João – ai! que falta faz chamá-lo de rapaz misterioso -, puxou a identidade da minha mão com força, também sorrindo.

“Essas fotos são horríveis. Nem Scarlett Johanson ficaria bem numa assim”.

“Scarlett Johanson”, eu disse, “por que logo ela?”

“É a minha musa pessoal.”

Ana deu um tapinha no braço de João brincando de ciúmes. Ana era dona dele então. Namorada de João. João e Ana, legais. Eu e Elisa, ainda a sobrar. Eu tinha de ser mais incisivo, menos covarde. Elisa estava na minha, eu acho. A noite perfeita. Tudo colaborava. Elisa perto de mim. Ai, Elisa. Fingi pegar algo no criado-mudo. Passei o braço por cima dela. Encostei o nariz nos seus cabelos. Àquela altura, estávamos perto demais. Captei seu segundo cheiro. Aqueles cabelos macios no meu nariz. Aquele cheiro de shampoo infantil me fazia lembrar a infância. Fazia-me lembrar de quando escorreguei no banheiro e rachei a cabeça. E do sangue aflorando, cobrindo meus olhos, meu nariz, a boca. Eu nu, água, suor, sangue. As coisas vermelhas. Esta lembrança agora parecia uma pétala de rosa caindo, graças a Elisa. Graças a Elisa que usa o mesmo shampoo que eu usava naquela época. Naqueles bons tempos, que ganhar um brinquedo com a cabeça rachada e no hospital era felicidade.

Voltei. Retornei da imersão nos cabelos de Elisa. Ela riu. Gostou do quase abraço surpresa. Disse que queria brincar comigo. Brincar como? Não com meu coração, não é, Elisa?

“Vou te maquiar.”

Ah, não. Era humilhação demais. Por favor, Elisa, não queira que eu seja seu amigo gay. Não levo jeito para essas coisas, sinceramente.

“Confie em mim”, ela disse, tirando o estojo de maquiagem de uma bolsinha preta.

Não poderia negar esse capricho a Elisa. Queria continuar sentindo o cheiro dela. Sei que Ana e João ririam de mim. Mas seria divertido até.

Seus dedos se aproximaram do meu rosto, cobrindo-o com pó-de-arroz. Estava quietinho, esperando ela terminar. Estava olhando para suas mãos, fininhas, o esmalte descascado. O esmalte vermelho, da cor do meu sangue no banheiro. Suas mãos exalavam o terceiro cheiro. Adocicado. Cheiro de produto tóxico que dá vontade de comer. Cheiro de detergente de maçã. Elisa parecia feliz. Eu não me sentia tão bem em vê-la rindo da minha cara. A verdade é que nunca me levaria a sério.

“Estou quase terminando”, ela me acalmava.

João e Ana ainda não haviam prestado atenção em mim. Elisa remexeu na bolsinha. Procurou, procurou e achou o batom, vermelho, mais vermelho que as unhas descascadas, mais vermelho que o sangue na minha infância. Elisa, por que eu? Por que eu para drag queen? Não poderia ser o João? Ele tem uma namorada. As pessoas não desconfiariam. Ele podia provar, provar que era muito homem. Eu não. Eu pareço um garoto. Um garoto assustado que treme quando você mexe os braços na minha direção. Vamos! Termine logo com isto. Eu não podia dizer. Não podia exigir.

“Pronto, terminei”, ela disse orgulhosa do seu feito, da sua experiência.

Elisa me puxou pelo braço, me guiou ao espelho. João e Ana sorriram, mas não debocharam.

“Agora você é Robert Smith!”, Elisa falou quando vi minha imagem.

Gostei da surpresa, gostei da fantasia. Gostei de como ela arrepiou meu cabelo sem que eu percebesse. Também, aquelas mãos pareciam pequenas almofadas. Pequenas nuvens que se dissipavam depois de serem atravessadas por um avião e retornavam à sua forma anterior. Elisa poderia roubar algo de mim. Talvez já tivesse roubado. Pois, enquanto os centímetros e a estranheza nos separavam, eu sentia um vazio, indescritível como um vazio deve ser.

“Agora vamos tirar umas fotos.”

Fiquei tonto com os flashes. Meu quarto era uma boate de pessoas loucas. Meu quarto era o lugar que tocava a música que ninguém nunca escutou e que ninguém nunca saberia se tinha escutado. Era indecifrável. Elisa era inefável. João e Ana eram essenciais. Não consigo definir suas posições no tabuleiro, mas eles deviam permanecer lá, sempre. Depois de quatro fotos, coloquei a mão em frente à câmera.

“Tudo bem”, Elisa parou.

Tudo bem, eles disseram. Eu não ouvi o que, mas entendi. Trouxeram um jogo de tabuleiro. João e Ana, Elisa e eu. Bons times. A partida começou. Eu não sabia o objetivo do jogo, não conhecia as regras. Só via as mãos de Elisa deslizarem no tabuleiro. Só via suas mãos afortunadas jogando os dados e comemorando depois. Ganhando para nós. Fomos os vencedores. Que bom aquilo ter terminado logo. João e Ana satisfeitos, Eu e Elisa livres. Livres até eles arranjarem algo mais para fazer. Algo mais para esquentar aquela noite, aconchegante, solitária. Aquela noite que parecia ser habitada apenas por nós quatro.

Elisa se enfadou. Por um minuto ela se enfadou. Abriu a primeira gaveta do meu criado-mudo. Lá estavam fotos que eu não sabia onde tinha guardado da última vez. Fotos da minha infância, chorando por não ter ganhado um caramelo, pelo palhaço feio e suado. Chorando por chorar.

Elisa riu do meu choro, riu das empoeiradas fotos polaroid. Meu choro infantil serviu para alguma coisa enfim.

Também cansei. Estiquei-me na cama. João e Ana por sua vez, continuavam sentados na ponta. Continuavam dando saltinhos, radiantes. Elisa viu e reviu todas as fotos, as poucas fotos. Ia se entregando ao marasmo. Foi até a janela, observou a rua por pouco tempo. Ninguém. Ninguém para confirmar se estávamos vivos. Nem gatos saindo das lixeiras.

Elisa esbaldou-se na cama também. Nós dois deitados, como se fôssemos fazer anjos na neve. Venci então o medo da rejeição. Encostei minha cabeça no seu ombro de um jeito mais íntimo. Voltei ao segundo cheiro, o dos cabelos. Cada vez que eu retrocedia a essas experiências aromáticas, algumas reminiscências eram despejadas em rápidos flashes. Pude me ver num dia de sol. Um sol que atravessava os cílios, que chamuscava os olhos. Que fazia o movimento das pessoas mais onírico. Acho que um sol com gravidade zero.

Movimentos lentos, frame por frame. Surreais. De dar enjoo. Belos. Um paradoxo que teimava em existir. Um momento que eu não queria nunca que chegasse ao fim. Atordoado como um morcego de sonar falho.

Seu corpo aproximou-se delicadamente do meu. A luz alaranjada do abajur incidindo no seu rosto como o sol que chamuscara meus olhos. Não enxergava muita coisa. Apenas instantes. Pequenos instantes que restavam no meu cérebro alheio à ordem natural das coisas.

O coquetel desceu goela abaixo cantando indecifravelmente, iluminando a garganta, laranja como o pôr-do-sol, com jeito de cerveja e menta. Seus lábios encostaram-se nos meus. Também almofadados, não como nuvens que se desfaziam. Os sentia lá, intactos, só eles, como se tivessem vida própria. Como se pertencessem a outra realidade. Não sei ao certo o que Elisa pensava naquele momento. Acho que não pensava. Acho que era vazio, assim como eu tinha por dentro. Vazio que clamava por ser preenchido eternamente.

Tudo parou. A música parou, as luzes se apagaram, os pelos se acomodaram e os lábios foram nuvens dispersas de novo. Tudo parou quando o vazio fez-se maior do que meu corpo poderia suportar. O coração parou por um instante de bombear aquele momento. Acordei tragando o vazio. Acordei querendo respirar mais o perfume de Elisa do que oxigênio. Acordei sozinho, entre os meus lençóis. Acordei escutando gatos remexendo as lixeiras e mendigos querendo espeto de gato. Acordei com as fotos arrumadas na gaveta. Acordei sem o amor que vivia na minha cabeça.




A TV exibindo o nada. Sintonizada numa ode ao vazio. Os gatos lá embaixo cansaram do lixo e foram passear. Cada uma das suas sete vidas era mais excitante que a minha. Mamãe tricotava, sonâmbula, o vazio. Tricotava um cobertor eterno que voaria pela janela e daria a volta ao mundo.

Ia à cozinha todas as noites tomar um copo de água com um vácuo no estômago. Todas as noites eu passava pela sala. Esperava alguma sombra se mover. Esperava um sorriso fácil de Elisa em meio à escuridão. Não funcionava muito bem. Os cheiros permaneciam na cabeça, mas não atravessavam o nariz. Uma foto polaroid em branco no criado-mudo, um risco, uma silhueta feminina, as nuvens. Dormia cada dia mais cedo. Quem sabe, amanhã.


sexta-feira, 10 de abril de 2009

Direitos humanos! Haha.


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Isto é de 1999. Tem dez anos. É um certificado de participação da campanha do Futura, "Direitos Humanos, Faça Valer". Como eu me orgulhava de ter recebido, haha. Lembro-me que contribui com um desenho de uma criança trabalhando no campo e, em cima de uma colina, a escola, o lugar onde ela realmente devia estar, haha. Ainda escrevi um poeminha na folha, com uma letra tortuosa. Recebi uma caneta, um cartão e este certificado. Eu achei incrível! Hoje tem valor sentimental.

E eu aprendi que os direitos humanos não são tão garantidos assim.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Partir de Agora


Este conto resume bem minhas impressões sobre meu trajeto quase diário à universidade. Coisa que requer de mim um certo esforço emocional.

Chegou a hora. Vejo no relógio. 18:15h. Chegou o momento de sair por aquela porta. Meus cabelos moldados pelo travesseiro, meu eu sem camisa. Alguém que não quer partir, que prefere ficar à deriva de dias lerdos. Vejo em cumprir a obrigação apenas um requinte masoquista. Sem mais resistência, visito o cadafalso todos os dias. Aliso meu pescoço como se nele vivesse uma gravata fantasma que aperta, nunca cede. Entrego-me logo às aulas de Direito, aos dias. Entrego-me logo ao chuveiro. Antes, checo a roupa. Escolho uma qualquer. Ponho sobre a cama.
Desce a água, molha a cabeça, e eu poderia ficar mais. Poderia viver mais sob o chuveiro e achar que é tudo água, que tudo escorre pelo ralo e vai para um esgoto comum. Mas me sinto pressionado. Tenho de ir. Tenho de cumprir logo. Não importa o atraso, não importa a pontualidade. Apenas corro como alguém que anda sem parar. Corro como alguém que vive parado. Correr para sempre é nunca mais se mexer. Fecho o chuveiro, me enxugo, escovo os dentes, passo os dedos entre os cabelos.

Cueca, calça, camisa, meia, tênis. Estou pronto. Até que ponto vestido? Não sei. Abro a porta, despeço-me de minha mãe. Caminho ainda tentando corrigir a postura. Piso os pés na calçada. Sigo o rumo que sobra. Vejo as velhinhas sentadas, conversando sobre o quê? Não sei. Sobre a igreja? Prefiro imaginar que conversem sobre perversidades. Perversidades mais perversas por serem velhinhas. Enfrento o declive. O lava jato, a delegacia, a biblioteca pública. Passo pela luz do poste, sempre olhando em sua direção, ofuscado, quase no mesmo ângulo de visão que tenho da lua. Imagino um eclipse, do meu mundo, pequeno, do poste, com o desconhecido, a atmosfera lunar.

Na rua, os carros passam, as motos cortam o ar, superlotadas, as bicicletas tentam chegar a algum lugar. Espero, me irrito com esse improvável trânsito. Mais velhinhas na calçada, aproveitando a velhice. Como é bom ficar velho. Atravesso a rua, subo alguns degraus da igreja da matriz. Tenho a impressão de que as velhinhas me olham pelas costas, de que se perguntam por que eu não me benzo como todos. Talvez não se perguntem sobre isso, mas eu imagino alguém reparando em mim.

A praça e suas luzes, suas pessoas, suas fontes de água. Quase como um Lego empoeirado, montado há anos, sem mover uma peça. Um senhor de cabelos brancos e meio calvo fala comigo, acena com o braço. Eu paro. Quero ser gentil, dar ouvido a todos. Ele me pergunta se não quero livros, bons livros. Fala sobre os livros, diz que são difíceis, diz que pagou muito por eles com todas as tarifas dos correios. Sinto muito, senhor. Eu não quero seus livros, mesmo que tivesse dinheiro. Acho que ele quer uma companhia, alguém para falar sobre livros. Alguém para falar sobre João Cabral de Melo Neto em meio àquelas merdas de pássaros que cobrem o banco. Senhor, venda seus livros para as velhas, elas precisam mais do que eu, pensei enquanto olhava um pardal morto perto dos meus pés.

Atravesso outra rua, na calçada, pessoas bebendo. A TV do bar ligada exibindo futebol. A fumaça e o cheiro de carne queimada abraçam por um momento meu corpo. Próximo a uma farmácia, velhos jogando dominó, sentados, batendo as peças com força, eufóricos. Lembro do dia que eles começaram. Eram um ou dois, desanimados. Agora eu os vejo apostando dinheiro, cobrando os que devem, exaltando suas potencialidades no jogo. Como é bom ficar velho. Nós nem precisamos viver, apenas sobreviver.

Becos, ruelas, aperto. Divido as calçadas com cadeiras, bicicletas, caixas abandonadas. Desvio. Exercício constante. Queria poder seguir reto às vezes. Apenas fechar os olhos e seguir, mas sempre tem algo deixado no caminho pra gente tropeçar. Por isso mantenho os olhos abertos, o suficiente para enxergar meu reflexo num espelho ao fundo de um velho salão de cabeleireiro. Tesouras sujas, enferrujadas, atracadas nos dedos. Tesouras que decepam orelhas como borboletas carnívoras assanhadas. As luzes fracas de mercúrio, penumbras assombrosas. Minha sombra projetada no chão, menos apática que eu. Aí vem aquele cheiro, suave mas incômodo. O cheiro da madeira dos caixões que esperam seus cadáveres em pé. A madeira velha, no ponto, quase como um instrumento musical. Madeira influencia diretamente na afinação. E, no meio de todos aqueles caixões dispostos um ao lado do outro, um velho assistindo TV, sem camisa, sentado numa cadeira de balanço, vendo a novela sem preocupar-se com a morte. Como é bom ficar velho.

Passo por alguns mototáxis na esquina. Parecem solitários, sempre esperando alguém que requisite seus serviços. Eles olham ao longe e contam piadas escorados na parede. O asfalto vai ficando mais sujo, mais marcado. Sinto cheiro de peixe podre, cheiro de mercado municipal. Desvio de um pedaço de carne jogado no chão. Tomates, batatas, cebolas, todos esmagados, colados no piche, como se brotassem dele também. Tenho este como meu lugar preferido da cidade. Pelo menos é o mais honesto, sem maquiagem alguma. Caminho ouvindo os gritos da sujeira emanada pelos poros do lugar. É a verdadeira pele que vem à tona empapada de saliva, de urina. Quem sabe sangue? Quem sabe esperma? Sinto meus pés sujos, minhas solas marcadas, meus pensamentos perdidos sob um véu negro intransponível. Um véu que cobre toda a cidade por mais iluminado e perfumado que seja o ponto.

De esquinas vivem os bêbados. Sempre um bar aberto esperando o desejo por aguardente. E os clientes estão lá, sedentos por algo que lhes faça esquecer o dia. Alguns fazem bem, ficam no caminho, entulhados no chão, quase como as caixas esquecidas. Perto deles, uma poça, e na poça, um gatinho. Deve ter esquecido de comer e bebeu muita água. Lá, apodrecido, respeitoso. Só fede quando bate a brisa. E ele me deixa passar. Bares, sinais de trânsito, mercadinhos, um móvel antigo bloqueando a calçada, buracos, tampas de garrafas, cigarros, tijolos... Eu é que me embebedo dos personagens cotidianos que vivem intensamente meu caminho perdido. Nunca poderei lembrar de apenas um, somente de todos. Porque eles compõem e personificam a sinceridade do fracasso. Programado para parar em um ponto, eu simplesmente deixo de andar e me sento naquela cadeira da faculdade, inodora, mas quase tão fúnebre quanto a madeira dos caixões.


Vampiras!


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E pensar que já faz 14 anos que eu tenho essa revista. Foi bom pra mim, aos seis anos de idade, aprender sobre como vampiras peladonas podem ser perigosas.

Imagem retirada da revista "Coleção Assombração nº 3 - Vampiras!"


sábado, 4 de abril de 2009

Paixões platônicas


Quem nunca teve uma paixão platônica? A menos que você não tenha um pingo de imaginação romântica, é claro que já passou por isto. Eu curto as minhas, todas as dorezinhas delas, haha. Me apaixono até pelas garotinhas dos comerciais de margarina. Aí vai uma lista, um tanto quanto duvidosa, de amores recentes e velhinhos, do tipo que a gente olha e pensa "essa é pra casar e nunca mais reclamar da vida":


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1º Lugar: Julie Delpy

Ai, ai. Bonita, madura e aberta pra conversar qualquer assunto. Pelo menos é assim que a gente a vê quando ela dá vida a Celine em Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-sol. Ah! Tem outra coisa, ela ainda canta na vida real! E tem uma voz linda.

A paixão veio quando assisti Antes do Amanhecer.

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2° Lugar: Rachel Bilson

O que Rachel tem de baixinha, tem também de linda. Dá vontade de fazer um chaveiro com ela e sair passeando por aí.

Ela acertou uma flecha no meu coração quando fazia a Summer do seriado The O.C.

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3º Lugar: Elisha Cuthbert

Hoje, nem tanto, mas quando estreou a primeira temporada de 24 Horas, eu só tinha olhos pro ponteiro e para ela. Elisha era Kim Bauer, filha do durão Jack Bauer.

Não precisou nem de meia hora pra Elisha me deixar com os olhos brilhando.

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4º Lugar: Yelle

Ah! A francesinha e moderninha Yelle ( Julie Budet) tem a aparência perfeita dos meus sonhos. Ela é magrinha, tem o cabelo curto, o nariz pontudo e, às vezes, aperece com umas olheiras que só me deixam mais inspirado.

Quando a vi malhando no clipe "Je Veux Te Voir", não teve jeito, foi paixão e amor à primeira vista.





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5º Lugar: Thora Birch

O único contato que tive com o seu trabalho foi no filme Mundo Cão (Ghost World), de 2001. Mas foi o suficiente para que eu não esquecesse seu rostinho. Ela parece uma camaleoa, muda bastante de tempos em tempos, mas este visual de Garota-HQ para a personagem do filme foi o que mais me empolgou.

Quando ela pôs a máscara de Mulher Gato por um segundo, eu quis ser o Batman.

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6º lugar: Audrey Hepburn

Audrey Hepburn parece mesmo uma bonequinha. Representando as divas clássicas do cinema, eis aqui um nome que mostra a beleza eterna corroborada com a deliciosa construção da personagem. Bem que podia nascer uma aqui assim, pertinho de mim.

Bem, eu acho que é a prostituta mais discreta do cinema, também, pudera, o filme foi lançado em 1961! Ainda bem que ela foge da devassidão, haha, senão não seria tão atraente.

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7º Lugar: Caroline Williams

Confesso que tive de buscar o nome dela na internet, mas deste shortinho eu não esqueço nunca. Pelo que sei, Caroline não é tão popular, e o único filme que assisti onde ela consta no elenco é O Massacre da Serra Elétrica 2. Que, por sinal, é considerado um fiasco. Eu gosto, talvez até mais do que o primeiro.

A cena dela com uma serra elétrica entre as pernas é impagável e apaixonante.


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8º Lugar: Joan Jett

Como se não bastasse cantar "I love Rock 'n Roll", ela tem também a beleza selvagem do Rock, e ainda continua em atividade, com um corpinho enxuto.

No clipe "Do You Wanna Touch Me", quando aparece de biquini, é que ela me faz querer tocá-la.





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9º Lugar: Milla Jovovich

Em penúltimo lugar, Milla Jovovich, mais pelo seu papel em O Quinto Elemento, a extraterrestre Leeloo, que, por sinal, é graciosíssima, do que por todo o resto. Com a dificuldade que ela tem de falar a língua dos terráqueos, o cabelo laranja com uma aparência sujinha e as econômicas faixas brancas envoltas em seu corpo que deixam bastante à mostra, Leeloo é um exemplar digno de profunda admiração.

Adoro quando ela cai sobre o táxi voador. É um presente dos céus!

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10º Lugar: Helen Slater

Por fim, a Supergirl que nunca teve superpoderes na carreira. O filme da prima do Superman foi um fracasso. Nem do próprio eu gostava, mas, inexplicavelmente, Supergirl me marcou na infância, não só de uma maneira desagradável. Hoje, eu tenho até o DVD, haha. A garota de capa vermelha veio de outro planeta e chegou à terra. Era tão caipira a coitada, mas bonitinha também.

Não me lembro bem, mas uma cena ficou engavetada na minha cabeça desde a infância, foi ela afundando na lama em uma dimensão paralela. Acho que é isso, haha.

Pequena miss raio de sol



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Ontem eu estava mesmo necessitando assistir algo que me desafogasse um pouco das sessões carregadas e viscerais que ajudam a passar o meu tempo e a pensar por que ele não passa. Ou então, por que é tão rápido quando eu me dou conta. Assisti Pequena Miss Sunshine. É bonito, sensível, divertido, com uma pitadinha de drama. Talvez a melhor qualidade do filme seja dosar com competência todos os seus atributos.
Pequena Miss Sunshine é um daqueles casos não tão comuns de longas que sabem trabalhar de forma leve, sem incomodar quem o assiste em nenhum momento, mas também, sem cair na babaquice, sem parecer piegas. Porque, se for pra assistir inutilidades genéricas, besteirol que nem ao menos autocrítica tem, prefiro descer ao fundo do poço e cair como um peso de chumbo em cima das películas mais perturbadoras, aflitivas, pungentes.

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Tendo como ponto de partida uma família totalmente desregulada, é que começa Pequena Miss Sunshine, e tudo segue uma linha simples de raciocínio (só para lembrar que, às vezes, a construção do mais simples, para que pareça simples, é verdadeiramente complexo). Simples é o desejo de Olive - ela quer participar de um concurso de beleza -, a garotinha protagonista. Complexa, e apresentada de forma simples, é a família dela. O pai trabalha aqueles velhos e fracassados métodos de auto-ajuda, mas, apesar de tentar ser o otimismo em pessoa, é visível em sua testa "perdedor". A mãe parece a mais normal da família, é a que tentarmanter as coisas calmas na hora do sufoco. O irmão mais velho não fala uma sequer palavra há um ano. O tio é um professor universitário que se apaixonou por um aluno e, rejeitado, cortou os pulsos numa tentativa de suicídio. O avô é usuário de heroína e vive pensando em pornografia. Esta é a composição da família de Olive. E ela, mesmo garotinha, parece conviver harmoniosamente com todos e ainda amá-los.

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Reunidos e decididos a levar a "futura" Miss Sunshine ao concurso de beleza, a família parte em viagem numa Kombi que, de tão velhinha - mas bonitinha -, é sempre preciso alguém a empurrando para que ela passe a funcionar. É na viagem, que não parecia algo tão árduo, que os personagens vão superando suas limitações e revelando suas particularidades.
É isso, Pequena Miss Sunshine, pra você que procura algo de mais fácil digestão sem decréscimo de qualidade.