quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Power Glove?


Hoje nós temos o Wii, o console da Nintendo mais bem sucedido, porém, em 1989, o que rolava era uma tal de Power Glove. A ideia podia ser boa - já demonstrando o grau de interatividade que os criadores pretendiam oferecer -, mas a execução foi horrível.

Pelo o que eu andei vendo por aí, essa espécie de luva/console foi fracasso de vendas, e para os desafortunados compradores, a única esperança que sobrou foi que a Power Glove se tornasse uma relíquia. O problema é que simplesmente ela não realizava o que cumpria, pois o controle por movimentos era totalmente falho.

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O mais divertido é assistir o comercial e alguns trechos de filmes que mostram o brinquedinho em ação - de forma bem duvidosa, é verdade.












Lily Allen Alien


Lily Allen tem uma beleza que me agrada. Ela não é do tipo top model, às vezes aparece meio gordinha, mas é bonita.

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O que me chama atenção são os olhos grandes, expressivos e o nariz achatadinho. Mas esta foto, com o peitinho de fora e direito a chifrinho foi de matar.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Scarlett


Provavelmente este é o último post do ano. Sem baboseiras, espero que 2010 seja bem legal, e desejo isso também para as alminhas que visitam este blog.

Que todo cara gente boa que nem eu, haha, possa encontrar sua Scarlett Johansson, e toda garota lésbica também. Não, pensando melhor, não. É concorrência demais.

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Enfim, essa loirinha é um espécime para se casar de ano em ano, lavar todo tipo de louça porca e engordurada, subir escadarias de joelhos, escrever poemas de um em um minuto e ainda cortar o próprio dedo midinho e entregar para ela como prova de amor.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Sobre a não existência de um deus


Deixando de lado as figuras da cultura pop e as amenidades do dia-a-dia, quero palavrear sobre algo mais profundo (ou não?), algo difícil de ser abordado, caminhado, não tão fácil como Jesus fez sobre as águas. Falarei sobre crença, ou melhor, descrença, a minha descrença de existência de qualquer ser metafísico: Saci-Pererê, Deus, Papai Noel, duendes, fantasmas em geral e todo o resto. Peço de antemão desculpas se alguém sentir-se ofendido com este texto, mas só existem duas formas de lidar com isso: ou se tem a cabeça aberta, capaz de absorver e filtrar opiniões alheias, separando o razoável do descartável e respeitando mesmo o que não se concorda, ou simplesmente se envolve automaticamente em um escudo impenetrável, rebatendo previamente tudo o que possa ser dito com argumentos pífios numa atitude desesperada de não entrar em contato com a perigosa e contagiosa verdade de outro. A última opção me parece um tanto quanto duvidosa para alguém que diz ter fé, a “verdadeira fé”.

Para mim, ter uma religião e acreditar em um determinado deus é algo estritamente cultural. Se assim não fosse, não teríamos os milhões de deuses espalhados pelo mundo, cada um com suas particularidades e excentricidades, respondendo aos anseios de seus locais de origem, mas capazes também de corresponder a sentimentos universais.

A discussão sobre a existência ou não existência de Deus nunca terá fim, porque de um lado a argumentação se faz através de provas e da razão, de outro, se dá através da fé - que não exige nada para existir, é absoluta. Existe por si só. E então, como dois pontos de vista de níveis tão diferentes – materiais e imateriais – podem entrar em embate e daí formar uma síntese? Não sei.

Nós podemos avaliar Deus de várias maneiras, e mesmo num contexto único, em uma situação onde todos acreditam venerar o mesmo deus, o que existem são deuses diferentes, de intensidades, valores e comportamentos diferentes. É o que acontece quando um criminoso se prepara para mais uma ação delituosa e pensa “Se Deus quiser vai dar tudo certo” ou “Deus nunca me deixa na mão”; quando alguém morre e dizem “Deus quis assim”; quando um casal tem um filho deficiente e fala “foi um presente de Deus”... Enfim, estão sempre desvirtuando, criando e sobrepondo pontos basilares de Deus. Mas este comportamento na maioria das vezes não é planejado, não é malicioso, é próprio de quem crê e projeta na figura misteriosa de Deus a sua própria imagem. Quando alguém afirma se comunicar com um ser divino, transcendental, se realmente imagina que isso seja possível, acredita que obtém alguma resposta, não faz nada mais do que falar consigo mesmo, como nos tempos de amigo imaginário – o que não era um absurdo na infância, mas passa a ser na fase adulta.

O ser humano é isso, tem necessidade de crer em algo superior; de jogar a responsabilidade nas costas de mais alguém; de criar um mundo fantasioso, fictício; de poder compartilhar um sentimento universal. É algo inerente ao ser humano. Assim como nós criamos os romances, as histórias, os filmes, os videogames mais fascinantes e imersivos, que nos permitem ser quem quisermos ser e fazer coisas possíveis apenas em um mundo imaginário, criamos também um ser responsável por reger o que é grande demais para nós, pequenos seres, e responder de forma mais descomplicada o que ainda não somos capazes de responder.

Primeiro que, para quem crê com o mínimo de conhecimento possível, alguns atributos de Deus existem de forma incontestável: ele é onisciente, onipotente e onipresente. Ou seja, para quem acredita nessa força maior, soberana, estas três qualidades são próprias da natureza de Deus. Ele tudo sabe e tudo vê, e me vê digitando este texto que nega sua existência; ele tudo pode, e pode me fazer ter um ataque cardíaco neste exato momento (mas não vai, porque me ama); ele está em todos os lugares, inclusive aqui do meu lado.

Resumindo, se Deus realmente existe e nos criou, ele nos tem como hamsters que andam de lá para cá e morrem. Nada mais do que isso. Porque Deus não interfere, não mesmo, em nada. Se você tiver uma arma apontada para a cabeça e rezar de forma veemente, da maneira mais emocionada que puder, e explicar sobre os seus filhos que dependem de você e sobre seus projetos sociais que beneficiam milhares de pessoas, depois de puxado o gatilho, a arma pode até não disparar, mas em 99% das vezes ela vai. Rezar, no sentido de que alguém vai te escutar é perda de tempo, a não ser que a oração realmente te fortaleça, o faça ficar mais confiante e seguro. É semelhante quando falamos conosco e repetimos “eu vou conseguir, eu vou conseguir!”. Orar é auto-sugestão. Vejamos o exemplo de alguém que perde um importante documento e passa a procurá-lo desesperadamente, sem lograr êxito. Pois bem, o que resta é recorrer à oração. Depois de vinte minutos clamando aos céus para se achar o bendito documento, finalmente lembramos onde ele está: dentro da segunda gaveta do criado-mudo. Alguém escutou seu pedido? Depende, se você estivesse muito desesperado, talvez o vizinho pudesse ter ouvido. A verdade é que, a mente, antes atormentada e distraída, passou a focar-se em um só ponto, o documento. “Meu Deus, abençoa a minha memória e faça com que eu ache esse documento. Me ajuda, Deus, preciso disso daqui a 20 minutos. Preciso do documento, o documento, o documento!”. E assim, voltamos todo o pensamento disperso para o ponto essencial. Orar requer concentração. Sob esse ponto de vista e alguns outros, pode até ser benéfico, mas não entorta talheres, não mexe copos e não é uma forma de se comunicar com seres divinos.

O mundo definitivamente não é um lugar justo. A justiça só seria absoluta se fosse dosada de forma correspondente a cada indivíduo e a cada caso, mas não é isso que acontece. Guerras, miséria, doenças, barbaridades que vemos no telejornal e que até chegamos a presenciar. O mundo está abarrotado de dor, de hipocrisia, de jogo de interesses e de alguém sempre tentando te passar a perna. Isto é culpa de Deus? Não, afinal ele criou o livre-arbítrio, certo? Podemos fazer o que quisermos com a condição de respondermos pelos nossos atos. Agora, se Deus realmente nos proporcionou essa fatia de liberdade chamada de livre-arbítrio, será que ele não pôde prever onde nós chegaríamos? Será que, sendo ele onisciente, não pôde antever o comportamento destrutivo e também próprio do homem? Aí, este é o momento que alguém ergue o braço e diz: “Não tente compreender Deus”. Com isso, mais uma vez ficamos sem respostas, e as nossas dúvidas que fervilham e põem risco à fé, tomam um banho de água fria.

Agora, o que me irrita mesmo, são as pessoas que não apenas acreditam em Deus, mas que não concebem o fato de que outra não acredita. Sempre dizem: “No fundo, você acredita”, ou então “Você diz isso porque ainda não abriu o coração para Jesus”. Sinceramente, qual o sentido de alguém que não crê em algo, fingir que aceita aquilo como verdade, ou “semi-crer” para só depois passar resolutamente a considerar crível? É como dizer a alguém que não acredita em extraterrestres que eles só não existem para essa pessoa porque ela não assistiu seriados de ficção científica o suficiente, e que seria bom se ela desse mais atenção a isso, fosse a convenções, lesse histórias em quadrinhos, pois aí sim eles passariam a existir, eles entrariam no coração. Nós não podemos nos abrir para uma coisa que pensamos não existir, a menos que se prove o contrário, e eu não sou inflexível. Estou apto para conhecer, aprender e acreditar. Se eu vir Deus voando por aí eu acreditarei. Isto pode acontecer amanhã, ou daqui a um ano, ou dez... Mas eu vivo melhor com base nas coisas que acredito serem verdadeiras, porque eu prefiro controlar minhas ilusões – que são extremamente necessárias – ao invés de ser controlado por uma delas.

É incrível, como em pleno século XXI, muita gente que diz “Você não abriu o coração para Jesus” não abriu a cabeça para o mundo, para o turbilhão constante de informações e para as várias maneiras de se enxergar o mundo, a vida, o belo, o divino. Um dos maiores bordões que pessoas desse tipo dizem é: “Nossa, deve ser muito triste uma vida assim, sem Deus”, “A alegria verdadeira e plena só é possível por meio de Deus”. Ok, ok. Isto é o estágio da cegueira. Eu não quero ser desrespeitoso, mas muitas das religiões e de seus fiéis que encontro no meu dia-a-dia se assemelham aos times de futebol e suas torcidas. Em um grau mais avantajado, as duas situações não deixam de se operar pelo fanatismo, mas a ligação maior que eu vejo é quando eu leio nos olhos das pessoas: “Venha para o meu time”. Parece que a quantidade definitivamente suprimiu a qualidade. Religião hoje tem de ser pop, fashion, tem de estar na TV, no Twitter, nos points, substituindo a baladinha. Tem de ter o axé de Cristo, o “poparacompó”, tem de estar em todos os guetos, tribos, catequizando no cybers os índios da internet. As instituições religiosas para não perderam espaço, atuam das mais variadas maneiras, pregam nos mais variados formatos. Seria bom se isso tivesse alguma utilidade fora arrebanhar ovelhinhas.

Mais uma vez quero deixar claro que, apesar de eu ser desconectado de qualquer tipo de religião ou fé em um ser superior, este texto não é dirigido à religião e à crença em sua totalidade, mas somente à parte – que não é pequena – nociva e capaz de impedir a evolução humana.

Enxergo em muitos que se dizem totalmente devotos a Deus um apego muito mais egoísta do que altruísta. Deus aparece como elemento X, como carta coringa, nas horas de necessidade. Isto explica o termo “ser tocado por Deus”. Curiosamente, as pessoas são tocadas quando nada mais funciona, quando crer na invisibilidade de um ser é a solução mais cabível. Aí então elas dizem “abri meu coração para Deus”, quando já não há mais alternativa fora desse campo de criação. Como eu costumo dizer, Deus existe mais como um remédio individual do que como uma solução coletiva.

Outro aspecto importante relativo a esse assunto é a forma de como pessoas teístas costumam me abordar e tentar impor a existência de um Deus. Sinceramente, eu evito falar sobre esse assunto, pois além de ser algo controverso, não me faz a mínima diferença. Eu não levanto essa bandeira e digo: sejam ateus! Não. Eu simplesmente deixo isso debaixo do tapete, porque eu não quero provar nada a ninguém nem necessito que os outros pensem como eu penso, mas essas opiniões, essa forma de contestar e procurar me aproximar da verdade, faz parte de mim.

As frases que partem de pessoas já meio ceguetas tem todas um mesmo tom. É o tom da opressão, do medo, da subordinação completa. Quando me perguntam sobre a existência de um Deus, simplesmente respondo que não acredito, me atenho a isso, enquanto os que ouvem querem mais. Dizem: “É como negar o pai que sempre te amou”, “Isso é negar a salvação”, “Para garantir uma vaga no reino dos céus você tem de ser rápido”, e blábláblá... Uma baboseira sem tamanho. Eu pergunto, por que essa necessidade de impor a outro o seu modo de vida? Por que estender-se tanto ao invés de simplesmente comedir-se dizendo que “Sim, acredito. Você não, mas tudo bem” Será que essas pessoas realmente estão preocupadas com você, a fim de que você encontre a tão sonhada felicidade e abrace a salvação eterna? Penso que não. Boa parte das religiões tem base no recrutamento de indivíduos. Levar mais um para o seu time é primeiro garantir a sua vaga no céu, é praticar o que é tido como certo, mas precisou ser imposto durante a vida inteira. Todos nós nascemos ateus, todos nós nascemos laicos. Nenhum bebê vem ao mundo com fixação por crucifixos em vez de brinquedos coloridos ou água benta em vez de um suco docinho. Nenhuma criança é tocada por Deus sem que haja estímulo dos pais ou das pessoas com as quais ela convive. Infelizmente esse processo surge quase sempre de um capricho daqueles que desejam ver seus filhos já iniciados em uma religião, já bentos e protegidos, sem que para isso haja o mínimo poder de discernimento dos principais interessados, vide a ação do batismo. Não seria muito mais interessante se, as pessoas de consciência e personalidade já formadas pudessem escolher serem batizadas ou não?

Se crer em Deus, para mim, parece um negócio não muito viável, ter uma religião parece um mau negócio. Não é necessário se aprofundar muito para reconhecer um caráter segregador ao invés de agregador e doutrinas que funcionam muito mais como porta-vozes de interesses individuais do que da população. O maior perigo vem daí, das ideias de um ser humano falho infiltradas nos mandamentos incontestáveis de um deus. O oportunismo se faz tão presente que não é raro vermos por aí pessoas pagando uma carga tão pesada de contribuição para as casas de Deus que nem elas mesmas tem um teto pra morar. Sendo ponderado, eu acredito que a casa de Deus não precisa de milhares de poltronas acolchoadas, tevês de plasma, piso de granito e luzes de neon luxuosas.

Definitivamente, não crer em um deus é muito mais difícil do que crer. É nadar contra a corrente e fazer parte da minoria, da margem. Mas também é libertador, porque é saber que há uma opção; que não necessitamos seguir os outros simplesmente porque eles têm uma forma de agir já estabelecida e aceita pela maioria. Então, não acreditar em Deus é também ter mais responsabilidade e saber que nem sempre os seus erros serão perdoados; é agir não guiado pelo o que é pecado e o que não é, mas sim de acordo com princípios morais, buscando a justiça e as virtudes próprias do ser humano; é distinguir o certo do errado sem algum tipo de temor tirânico.

Eu venho de uma família católica, de alguns membros mais fervorosos e outros menos. Quando se é criança, é difícil contestar a validade de algo que ainda não se conhece bem. Aliás, essa ideia nem se passa pela cabeça, porque todos que conhecemos são assim e ponto final. Todos que conhecemos vão à igreja e se benzem, mas eu nunca tive dentro de mim nenhuma força extraordinária em relação à espiritualidade nem contato com Deus. Eu nunca pensei em Deus como um ser que vive independentemente da nossa vontade. O Deus era simplesmente o do imaginário infantil, dos especiais da TV, dos filmes, das histórias em quadrinhos e livretos ilustrados.

Imagino que um mundo mais evoluído e agradável de se viver seria pós-teísta, onde acreditar ou não em Deus já não fizesse tanta diferença e onde a maioria dos conflitos surgidos de uma fé cega fossem suprimidos.

Não é coerente nós buscarmos o sentido desta vida fora dela mesma. Eu acredito no amor e na ainda existente bondade humana, por isso tenho esperanças de que possamos plantar o melhor para nós mesmos e construirmos nossa história de forma mais liberta.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Inseto


Simplesmente adorei os trabalhos criados pela agência de publicidade belga Air. São incríveis e imersivos ao extremo.

A proposta basicamente é dar um novo ar à leitura, com a mensagem "Faça seu próprio filme: leia um livro". Para pôr a ideia em prática e materializar as palavras em modelos de produções cinematográficas de vários tipos, eles usaram o clássico de Kafka, A Metamorfose:

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Filme mudo. Na minha opinião, esta foi a melhor imagem. Incrível a profundidade que ela transmite!

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Filme estilo Las Vegas.

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Animê/Manga

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Moldado no cinema de Bollywood.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Korine


Trash Humpers vem aí. É o novo filme do Harmony Korine, eu ainda não sei do que se trata, e também não sei se saberei depois de assistir.

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Só sei que depois de ver esse trailer e escutar esses grunhidos escrotos, estou morrendo de vontade de conferir.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Duas?


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Havia escutado Tegan and Sara, achado legal e jogado na gaveta. Só isso. Eu só conhecia o som. Aí vi o clipe na TV, gostei, principalmente da garota que aparecia como duas com aquele topete caprichado. Mas não era efeito do clipe. Para minha surpresa, são duas garotas mesmo, irmãs gêmeas idênticas e bonitinhas que só elas.

Eis o clipe que me enganou:





quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Teresinha


Teresinha tinha um seio maior do que o outro. O esquerdo era maior do que o direito, e isto ela atribuía a um milagre dos céus. O coração era crescido pelo amor a Jesus. O peito era empurrado para a frente, grudado pelo suor com a cruz de madeira que carregava no pescoço.

Seus cabelos não tinham uma cor bem definida. Não se encaixavam em paleta alguma. Era aquela tonalidade que não sobrevive na mente dos outros, que parece tão apagada quanto inexistente. Não sei se pardos, se grisalhos, se castanhos, se ruivos, se loiros. Os cabelos de Teresinha faziam crer que somos todos daltônicos.

Morava só. Tão só que parecia viver em quarentena, tão só que suas flores pareciam de plástico. Não tinha TV, nem computador, somente um aparelho de som quebrado que não tocava CDs. Talvez seu lugar preferido da casa fosse a sala, lá havia um armário antigo e uma poltrona verde desbotada, acolchoada ao extremo. Sentava na poltrona por horas, até não mais sentir sua bunda inexistente. Ficava lendo à meia-luz sua leitura obrigatória regozijante, a bíblia. Sofria de hipermetropia; sete graus em cada olho. Parecia milagre dos céus também, pois aqueles olhos danificados eram o registro do quanto sua visão foi destinada ao Senhor e seus ensinamentos.

Não tinha filhos, não teve namorado, nunca transou nem se masturbou. Era tão intacta que que nem seus pelos pubianos foram mexidos. Estavam todos lá fazendo um grande volume, um chumaço impressionante. Seu único homem era Jesus, o único capaz de possuí-la por inteiro sem rompimento de hímen. Amém.

Saía de manhãzinha para aproveitar o sol, escutar o canto dos passarinhos e comprar pão. Levava um saco de pães quentinhos para casa e distribuía alguns pelo caminho entre os mendigos que surgiam. Quando chegava, era o mesmo ritual de sempre: faca, manteiga, pão, café. E vinha a azia de sempre também, lhe queimando como se tivesse satã nas entranhas espetando tudo com o seu tridente.

Em apenas um momento de sua vida Teresinha pretendia ficar bonita, era quando ia à igreja. Talvez não pensasse bem em ficar bonita, mas apenas em ser igual às outras, às velhinhas que ela começara a se tornar. Com 45 anos a aparência era de bem mais. A maquiagem lhe acrescia velhice ao invés de subtrair-lhe e o kit básico com batom e pó para rosto tinha mais tempo de existência do que ela mesma. Com a face carregada, pintada, quase como quem vai para a guerra, ela exalava a fedentina da maquiagem mofada, assim como as outras velhinhas, asseadas mas fedidas, com seus terços envoltos nos braços. Assistia a missa e fingia entender o sermão do padre que arrastava as palavras, balbuciava algo e de claro mesmo só o amém!, mas só o amém era necessário. O que o precedia era tudo de melhor, de positivo e benéfico. Ela tinha certeza. Era a casa de Deus.

Asseava-se numa enorme e velha bacia que fazia de banheira. Acostumara-se a tomar banho assim desde pequena. Morava num sítio com os pais, e enquanto os primos improvisavam um chuveiro erguendo uma garrafa com um funil na boca, ela preferia se esbaldar na bacia, sozinha. A bacia das lavadeiras, das mulheres de fé que lavavam roupa o dia inteiro e cantavam à beira do rio num tom peculiar. Terezinha tinha fixação pela bacia, por ser envolta pelas águas, por batizar-se todos os dias. Um manto sagrado após o outro, uma benção após a outra. Seu coração enchia-se com apenas um sentimento por parecer desconhecer os outros. Ele batia compaixão... a quem?

Um dia ditado pelo sino da igreja, nutrido pelos pães e cerejas de sobremesa, percorrido pelas sapatilhas, vividos como numa ilha, transbordados pela bacia, satânicos pela azia, abençoados pela liturgia, iguais como ela queria.

Foi num dia tão igual aos outros, tão frouxo e imperceptível, tão dopado como o padre tonto pelo sangue de Cristo que Terezinha aguardava para atravessar a rua. O terço colado no peito, o vento passando pelos cabelos estáticos, o braço pressionando com força a bolsa contra o corpo. Terezinha temia um assalto, um pivetinho, trombadinha, moleque, cheirador, desses que andam em grupinhos, e empurram, rasgam, arrancam, devoram sem piedade, derrubam no chão sem piedade. Prevenir é sempre melhor do que remediar.

Sinal verde e suas perninhas peludas partem. Pequenos passos nada pretensiosos. Como gueixa, como queixa de quem esperneia para não andar mais rápido. Teresinha observa as faixas de pedestres e vê nelas a Via Crúcis, ataduras envolvendo um fundo incerto, profundamente negro. Sente uma estranha leveza no ser, como se a alma evaporasse pela boca, mas foram apenas gases. Enquanto o ônibus lotado lhe arrastava através do asfalto mais quente pelo seu sangue novo, ela teve a certeza do pensamento que a acompanhara por toda a vida: Deus não existe.

sábado, 14 de novembro de 2009

O futuro de 1990


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Já que o silicone não é mais novidade nenhuma, nada melhor do que um peito extra.

sábado, 19 de setembro de 2009

Save Ferris!


Falar sobre o clássico Curtindo a Vida Adoidado, 23 anos depois do seu lançamento e com a morte recente do diretor John Hughes, não é só um simples texto, mas também uma tentativa de homenagem.

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Muitas são as pessoas que, ao se depararem com alguma das cenas do filme passando na Sessão da Tarde ou seja lá onde for, simplesmente param o que estão fazendo para dar uma espiadinha e matar a saudade.

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Quem não associa imediatamente a música Oh Yeah do Yello a Ferris, Cameron e a Ferrari do pai deste? Ferris e sua história de uma dia estão intimamente ligados ao imaginário popular. Quem viveu os anos 80 confirma isso sem pestanejar. Eu nasci no finalzinho dessa década, mais precisamente em 1988, e sei que os frutos do filme continuaram brotando pelos anos seguintes, e assim vai ser por muito tempo.

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O filme continua sendo um dos meus favoritos, ótimo para uma levantada no ânimo. Depois de sessões seguidas de longas paranoicos e insanos, Ferris Bueller's Day off é recomendado. Já o assisti inúmeras vezes, muito pelo sentimento de nostalgia que nos é passado a cada exibição, mas muito também porque os personagens parecem ter vida própria, tirar um dia de folga milhares de vezes nessas mais de duas décadas.

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A história parte de uma premissa simples: um jovem sufocado pelos dias no colégio, a fim de tirar um dia de folga com sua namorada e seu melhor amigo. E aí, por trás desse enredo descomplicado, surge uma série de personagens bem construídos, de situações hilárias, de músicas inesquecíveis. Talvez o maior mérito do filme seja construir tão bem essa estrutura a ponto de nos convidar para curtir a vida com Ferris. Essa imersão começa quando Bueller fala diretamente com a câmera e, nesse mesmo tom, ele sintetiza o filme com: "A vida passa muito depressa. Se não pararmos para curti-la, ela escapa por nossas mãos".

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Os pais sempre ocupados com o trabalho, uma irmã ranzinza, um melhor amigo depressivo, uma namorada que todos queriam igual, um diretor implacável (ou que pelo menos tenta ser), e uma Ferrari que não é Ferrari já que o modelo utilizado no filme é o de um carro semelhante devido aos custos de locação. Convivendo com esses tipos, Ferris parece o mais normal, relaxado e até inconsequente de todos. Não importa se a Ferrari do pai do Cameron pode bater, se sua namorada vai parecer estar dando uns amassos no avô, se todo mundo no colégio pensa que você necessita urgentemente de um transplante de rim. Nada disso importa. Esse é o último ano de colégio.

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Curtindo a Vida Adoidado vai crescendo, crescendo, até que explode com um Ferris amalucado dublando Twist and Shout na versão dos Beatles em meio a um desfile em Chicago. As pessoas apinham a tela, dançando em toda e qualquer direção, e até um grupo que só sabe a coreografia de Thriller do Michael Jackson, cai bem na cena.

Acho que muitas das comédias hoje em dia que apelam para o besteirol e para o açúcar, no caso das comédias românticas, poderiam aprender com Ferris e sua turma.

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Apesar da aparente simplicidade e até mesmo do clichê que acaba fazendo as pessoas se identificarem mais ainda com o filme - qual estudante nunca armou algo para faltar no colégio? -, tudo é bem tecido, bem detalhado, contando não só com a pura comédia, mas se estruturando com toques de drama, como por exemplo quando Cameron dialoga com Sloane sobre a incerteza do futuro; também com o romance de Ferris e Sloane; a aventura de fugir do temido Ed Rooney, e a própria magia que o filme adquiriu com o tempo.

Para encerrar, nada melhor do que save Ferris!

domingo, 6 de setembro de 2009

Anacañasanas


Esses dias recebi da Rolling Stone um CD da Ana Cañas, o Hein?. Conheço superficialmente, assisto vez ou outra um dos seus clipes que passa na TV e ainda não escutei o disco.

Ana é uma graça de menina, bonita mesmo, e parece que cheia de energia.

O que me chamou a atenção foi o capricho do kit. Creio que seja só para a imprensa, mas mesmo assim, em plena crise da indústria fonográfica convencional, é de se admirar tentar fazer um produto que se sobressaia dos demais e cause uma boa impressão em quem for.

Além do CD (que vem com livreto das letras das músicas), tem um bloco de notas para se usar como quiser, mais um vídeo release pra imprensa, isso tudo amarrado por um fio verde com uma orelha de borracha pendurada, como uma menção à pergunta que se pede resposta ao pé do ouvido: hein?

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Originalidade!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Machete é manchete!


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Silvia Machete é cantora e compositora, além de artista performática. Sua beleza se constitui através de um conjunto: ela é engraçada, sensual, inteligente e sabe o que quer.

Além de fazer a dieta da banana:


quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ploc?


Quando a gente acha que já inventaram de tudo, sempre aparece um gadget a mais pra faturar algum dinheiro e tentar emplacar uma nova mania.

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O Ploc-ploc é a versão brasileira de um chaveirinho inventado no Japão que simula o plástico bolha, mania de tanta gente, principalmente de quem entra na fase idosa.

Confesso que até gosto de estourar um pouco, mas lembrei mesmo foi da minha mãe. Ela não perde tempo, é só o carteiro fazer a entrega de algo envolto no plástico bolha que ela já começa a estourar. Irrita ouvir.

Existe até uma comunidade no orkut com quase 600.000 membros (clique aqui) que reune os adoradores do plástico bolha.

É bem capaz da ala conservadora se rebelar contra o fato do plástico bolha original andar perdendo adeptos para o artificial.


sábado, 22 de agosto de 2009

Divino do Rock


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Serguei diz ser pansexual.

Esse cachorrinho tá assustado que é uma beleza, né não?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sonho com...


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Eva Green, arrasadora em Os Sonhadores (The Dreamers).

Os seios dela à mostra, presente em várias cenas do filme, parecem dois pêssegos maduros cheios de viço.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Começo


Quando foi a primeira vez que você escutou música? Quando foi que nós, pela primeira vez, escutamos um som musicado? Na barriga da mãe? Não, não. Na barriga da mãe a única música possível é o chacoalho do líquido amniótico. É impossível determinar e ilustrar o exato e primeiro momento que nossos tímpanos recém-chegados ao mundo escutaram melodia. Foi apagado, deletado de nossa memória, ou pelo menos só vive em nosso subconsciente, e, dependendo da música, quem sabe nossos traumas não vêm daí? Não, não vêm. Exagero.


Buscando o primeiro registro musical da minha vida, retorno a músicas que me marcaram bastante, justamente por serem o primeiro contato indelével que tive com o universo musical e, a partir daí, fui começando a entender o que se passava e trabalhar meu senso crítico para separar o bom do ruim, o clássico do duvidoso.

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Não fiz parte da geração MTV. Não tinha TV a cabo e não cresci entre essa linguagem rápida, pop e, às vezes, superficial. Cresci tendo contato esporádico com o que tocava, com o que fazia sucesso na década de noventa, com o que reverberava em meus ouvidos, fruto do gosto dos outros.

Lembro bem, ainda com uns cinco anos de idade, de minha mãe escutando "Cálice" de Chico Buarque e Gilberto Gil, "Paralelas" de Belchior e "Borbulhas de Amor" de Fagner.

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Até então, música para mim estava ligada ao rádio, ao aparelho de som. Aquela caixinha era a casa das músicas e dos intérpretes. Não durou muito essa ideia quando eu assisti pela primeira vez a um videoclipe. Foi por acaso, e era estranhíssimo, porque os vídeos musicais se apresentavam durante o espaço reservado ao horário político na Rede Globo. Enquanto os outros canais exibiam os candidatos eleitorais e suas promessas, a emissora do Sr. Roberto Marinho apresentava clipes já antigos.

Primeiro vinha um tela preta de alguns segundos, depois uma mistureba alucinada. Tinha "YMCA" do Village People, "It's Raining Man" das Weather Girls, "Eye Of The Tiger" do Survivor, "Billie Jean" do Michael Jackson e uma música horrenda cantada em inglês pelo Fábio Júnior e uma Loura que eu não me lembro quem é.

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É verdade que eu adorava o Tantantan, de "Eye of The Tiger", tema de Rocky. Já dava vontade de armar os punhos e sair boxeando. Adorava também o vídeo de "Billie Jean", principalmente na cena do chão se iluminando a cada passo. Em "It's Raining Man" a sensação que predominava era o de estranheza. O que faziam duas gordas com guarda-chuvas na mão, saltando por uma janela e apreciando uma chuva de homens mal recortados na edição do vídeo? Depoisss eu entendi a letra.

A TV Cultura, boa TV Cultura, também exibia alguns clipes durante sua programação pra tapar buracos, entre eles, alguns que eu não me cansava de ver como "Qualquer Bobagem", originalmente dos Mutantes, mas aqui na versão do Pato Fu e a também "Primavera", dos Los Hermanos.

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Nessa época, as mídias que circulavam pela minha mão eram CDs, a maioria cópias, e as velhas fitinhas K7, que também eram vendidas em camelôs ou lojinhas de disco que acabavam faturando mais com os piratas mesmo. E numa fitinha K7 preta, eu gravava a maioria das músicas que fazia sucesso e rolava pelas rádios locais, mas a que sempre permanecia era "Sobre O Tempo", do Pato Fu. E, sobre o tempo, engraçado como vamos amadurecendo, atravessando as fases da vida, ficando com o ouvido mais crítico, mas também guardando um pouco de cada coisa.

Das músicas relatadas neste post, muitas ainda tem lugar na minha playlist.


sábado, 1 de agosto de 2009

KT Cat


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A cantora Kate Tunstall tem uma beleza difícil de se encontrar por aí. Nasceu na Escócia e tem ascendência chinesa e irlandesa. Foi uma mistura que deu muito certo, e o resultado se vê na belezinha que ela é.

Tokyo Gore Porquice


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O samurai-policial de Tokyo Gore Police e seu pênis-mutante-que-atira em ação.

Mais um daqueles filmes japoneses onde a única graça é esperar pela próxima situação bizarra.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O urubu do Fluminense


Rogério Tolomei Teixeira é o matador de passarinho, dono de urubu, apreciador de motosserra, é um cadáver. Rogério é Rogério. Rogério é Skylab. Todos esses são um artista inconfundível que confunde os desavisados.

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Escuto Skylab há algum tempo e sempre acompanho suas aparições por aí. Seja em programas de rádio, internet, em alguma revista ou na TV, ele se apresenta sempre o mesmo. Talvez seja fruto de sua admiração pela repetição. E essa admiração tem um fundo de verdade. Repetir-se, fazer a mesma coisa durante anos tão bem quanto se fazia antes é um mérito. É não perder o fôlego. Mas não é um desmérito também deixar de construir, de criar, incrementar, melhorar? É ironia de Skylab.

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Skylab foi um dos convidados a ter mais vezes o convite repetido de participar do Programa do Jô. E este foi o responsável por sua maior popularidade. Ser entrevistado varias vezes por um entrevistador que faz as mesmas perguntas não é fácil, mas essas perguntas, e as respostas, o jeito de respondê-las, é que criaram sobre a figura de Rogério essa capa de Skylab, que ajudaram a construir o personagem que não passa despercebido.

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Imagine só, de dia, um funcionário do Banco do Brasil (ex-funcionário), à noite, um artista performático, que abusa da estética trash, que une o erudito e o popular, que mescla Rock 'n' Roll com MPB - e mais do que isso -, que não tem nada a ver com as baleias, que adora porrada na TV, que lê Baudelaire e Mallarmé, que rouba música dos outros, que samba de um jeito diferente, como quem está apertado, que não conclui porra nenhuma, que tem uma irmã chamada Siva Maria, que fica acordado à noite e dorme de dia, que afirma: "para estar por dentro é necessário primeiro estar por fora.".

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O trabalho de Rogério é inexequível, pelo menos na maioria dos veículos, na maioria dos programas de TV, de rádio. A partir do momento que Rogério compõe sobre temas descreditados, execrados, perversos... humanos, em seu estado primitivo, ele mesmo assina sua marginalidade. Assina seu atestado de óbito, e o tiro final, promete, será no décimo e derradeiro álbum de sua carreira (pelo menos como Skylab). Automaticamente se incluirá na faixa "Samba (Eu quero saber quem matou)". Mas será que Skylab viveu? A resposta é sim, ele vive por aí, meio abissal.

Posso estar errado, e erra muito, mesmo quem conhece o trabalho de Skylab a fundo. É um ato falho. Eu, particularmente, por muitas vezes o acho contraditório. Mas é uma espécie de contradição estratégica, planejada, prevista. É uma armadilha invisível. Rogério diz que muito do que faz é compulsão. Arte? Talvez. Crítica social? Não. Mas o que eu vejo - talvez ludibriado pelos sentidos -, é sim também crítica social, é arte, e a compulsão eu não percebo. Talvez a intenção de Skylab não seja realmente isso, mas ele há de reconhecer que, suas letras, suas melodias, lacradas e compactadas, digitalizadas, que ganham os ouvidos dos outros, ganham também pernas próprias. E, depois de andarem por aí, vivem talvez o que o artista não calculou.

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Outro exemplo de contradição de Rogério Skylab é quando ele afirma com todas as palavras que nunca teve a intenção de embutir humor no que faz, que seus planos eram só abordar a tragédia. Bem, depois de narrar tantos absurdos, tantas situações surreais de tão reais, da maneira como é dita e interpretada, e falar seriamente, com tom de pesar, que não há humor naquilo, é de se rir, automaticamente.

Agora, o que é uma burrice de se dizer é que Rogério Skylab é humorista. Isso vem de gente curiosa e preguiçosa. Curiosa o bastante para checar "o que aquele cara faz?". Preguiçosa o bastante para não se inteirar sobre o trabalho dele. Não que desempenhar a função de humorista seja algo negativo, pelo contrário. O problema é rotular de maneira deturpada. O humor em seu trabalho é consequência e não objetivo.

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Rogério é cantor, compositor, escritor... e corajoso, muito corajoso por levar seu projeto à frente.

Algo que eu não poderia deixar de fora são as capas dos discos. Todas elas clicadas pela artista plática Solange Venturi, e todas muito boas também. Já teve mulher estuprada, amor das galinhas mortas, o feto humano deformado e seus parangolés, o sobrinho com cara da safado, Rogério travestido, Rogério fraturado, o cãozinho plácido na vegetação daninha e, do mais recente, o boneco com enchimento.

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Todas essas figuras só ajudam a compor o valor unitário que eu dou aos álbuns. Cada um parece lacrado em si mesmo, tornando as faixas elementos que compõe uma viagem única, quase como um filme, onde nós somos o projetor.

Agora eu aguardo ansioso pelo lançamento do seu segundo livro, dessa vez de contos, e também do primeiro DVD de sua carreira.


Fuscão Preto


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"'Fuscão Preto' é uma fantástica aventura, que fala do amor de um carro por uma jovem."

Tá, tá bom.

É a versão-tupiniquim-ao-inverso-de-Christine.


Créditos ao blog Necrofilmes por disponibilizar esta e outras capas.


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Linda não, mas bonitinha, vai...


Ela bota pra fora a sopa de ervilha e tem sobrenome de bruxa, mas antes do demônio adentrar o seu corpinho, até tinha um encanto.


É a Linda Blair, moçoila que interpretou a Regan, em O Exorcista.



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terça-feira, 21 de julho de 2009

Fome de Amor


- Aqui estão suas rosquinhas – disse Joaquim, o padeiro, entregando um pacote volumoso com nódoas de gordura a Clóvis, cliente assíduo.

- Obrigado – respondeu. Dirigiu-se ao caixa e pagou.

Clóvis acordava cedo e ia direto à padaria. Aos poucos, extasiado pelos aromas, munia-se de quitutes. Já tinha fritado ovos e bacon, mas precisava de algo doce. Hoje, levava consigo 14 rosquinhas tamanho médio polvilhadas de açúcar.

Seus passos eram lentos. Seu suor, abundante. Clóvis olhava abaixo do pescoço, e por mais refrescantes que fossem as roupas, sempre estavam ensopadas. Ele parecia derreter, mas sem perder o volume.

Não conhecia quase ninguém no bairro. De manhã cedinho, voltando da padaria de seu Joaquim, encontrava com bastante gente que lhe acenava: garotos musculosos praticando cooper, velhas senhoras com suas maquiagens fétidas e cachorros podados. Se lhe associassem a algo, certamente seria às rosquinhas. Clóvis e suas rosquinhas. Pelo menos era algo que valia a pena.

Sentia a caminhada até casa cada vez mais cansativa. A idade chegando – 30 anos comemorados semana passada – e o corpo pesando. O pensamento era paradoxal, mas Clóvis parecia flutuar, como um astronauta no espaço. Astronautas comem pílulas. Ele estava na terra, comia coisas mais densas.

Enxugou com o braço direito as gotas de suor que brotavam de sua testa. O outro braço segurava firme o saco de rosquinhas. Ainda quentes, elas exalavam um aroma irresistível que penetrava em seu nariz.

Ao caminhar, as coxas de Clóvis embatiam-se. Uma querendo ocupar o espaço da outra, elas lutavam por um vácuo no corpo estufado. Um embate de texturas gelatinosas, convulsivas, lembrando os grandes pedaços de carne que balançavam de lá para cá nos ganchos dos frigoríficos.

- Clóvis, clóvis! - disse uma voz vinda de trás.

Uma mão robusta apertou seu ombro e o fez dar meia-volta.

- Há quanto tempo! - continuou o homem. - O que anda fazendo da vida? Ainda trabalhando naquele serviço de atendimento ao consumidor? Por que não aparece para tomarmos uns chopes? E o churrasco? Você ainda faz aquele churrasco divino? Aquilo era mais do que uma arte!

Quem era aquele homem que o encheu de perguntas? Será que ele havia se enganado, confundido Clóvis com algum amigo, algum parente? Não. Pensando bem, ele tinha um rosto familiar. O rosto do homem estava arquivado nas lembranças de anos atrás... mas, quem seria? Claro! Como pôde esquecer da pinta preta, próxima ao queixo, de onde saiam três fiapos tesos.

- É mesmo. Há quanto tempo, Augusto.

A parte difícil ele já passou: reconheceu aquele primo distante com quem fez questão de cortar relações há anos. Agora era pensar em como responder tudo aquilo de forma rápida e evitar mais perguntas. Só o que valia agora era chegar em casa e saborear aquelas rosquinhas crescidas.

- Eu não trabalho mais lá e ando um pouco sem tempo para sair de casa. Agora, se me permite, tenho de ir - Clóvis disse, conciso, e retornou ao seu caminho. Dados alguns passos, Augusto, com um sorriso morno no rosto, falou:

- O que esconde aí, Clóvis?

A pergunta soava mais como um pedido, pois no saco claramente lia-se: “rosquinhas”.

Clóvis voltou, andou lentamente, chegou próximo a Augusto e respondeu:

- São só rosquinhas. Sempre as compro em uma padaria que fica a duas quadras daqui.

- Posso experimentar uma? - disse Augusto, com os olhos fitados no pacote de rosquinhas.

- Sim - Clóvis disse, sem tanto ânimo. Desembrulhou o pacote e aproximou-o de Augusto: - Tome.

Augusto tirou de dentro uma rosquinha, deu uma mordida e disse:

- Huuummm... São maravilhosas! - Lambeu um resto do recheio que se esparramara pelo canto da boca e tornou a olhar Clóvis.

- Eu gosto delas - ele disse.

Clóvis sentia um desejo incontrolável de comê-las, todas! Agora! Mas não podia, aquelas todas não existiam mais. Eram apenas treze, não mais quatorze. Ele também não podia comer tudo, ali, na rua. Tinha primeiro de chegar em casa, no seu recinto sagrado, envolto de aromas, de embalagens, de gostos sintéticos, de latas para se abrir, de comida de ontem, de hoje e amanhã. Comer... Ah! Comer... É a resposta para todos os desejos. Todas as frustrações, deglutidas, engolidas, digeridas. Todos os sabores e prazeres dentro de seu corpo, revolvendo-se até deixá-lo para mais uma carga de tudo isso.

- Foi um prazer encontrar com você, Augusto, mas marquei com o médico daqui a meia hora e tenho de ir.

Não existia médico nenhum, muito menos algum prazer obtido em ter se encontrado com Augusto.

- Ah! Não faz isso comigo não. A gente não se vê há séculos e você vem com esse papo de que precisa ir? Vai fazer o que no médico? Por acaso algum exame de próstata antecipado? Hahaha... – Augusto gargalhou, deixando ainda mais evidente seus enormes dentes, que sempre ficavam de fora da boca.

“Muito engraçado”, Clóvis disse para si mesmo. – Não... Eu só quero ter informações sobre um novo tipo de dieta que ele me indicou.

- Clóvis! Você só pode estar de brincadeira, é isso. Nunca foi de se preocupar com dietas. Gostava de aproveitar a vida, de beber e se esbaldar num churrasco e agora me vem com essa... – Augusto balançava a cabeça em tom de reprovação.

- Eu preciso disso, senão, nem sei mais quanto tempo ainda tenho de vida.

Clóvis não se preocupava exatamente quanto tempo permaneceria vivo, mas sim, quanto tempo permaneceria comendo. Um compromisso inadiável era a desculpa perfeita para, nesse momento, livrar-se de Augusto.

Olhando-o de cima a baixo, até mesmo um imprudente como Augusto percebia ao que Clóvis se referia.

- Não exagera, vai... São só... São só alguns quilinhos. Você compra um daqueles aparelhos de ginástica da TV e perde tudo em uma semana – disse Augusto, tentando amenizar a situação.

- Olha, obrigado pelo conselho – Clóvis disse, olhando nos olhos de Augusto, - mas eu prefiro ter certeza de que... Você sabe... Esses pneuzinhos não estão me afetando tanto assim. Agora, preciso ir.

Clóvis direcionou-se a seu caminho e tornou a andar. Augusto ficou parado, contemplativo, solitário, como se agora Clóvis fosse seu único amigo.

- E a Soninha? – Augusto gritou, desesperado por mais alguns instantes de conversa.

Clóvis voltou para responder:

- O que tem a Soninha? – Perguntou, ríspido.

- Sabe, a Soninha, aquela garota com quem você dizia que costumava sair... – Augusto acrescentou, como se tentasse ganhar tempo para dizer algo.

- Não sei mais dela.

Clóvis realmente não sabia nada sobre Soninha e nem nunca soube. Soninha nunca existiu. Era só uma desculpa usada por Clóvis para ludibriar seus amigos e mostrar que ele fazia pelo menos algum sucesso com as mulheres.

- Ah, que pena! Tem seu telefone? – perguntou excitado – Porque, se você não se importar, talvez eu possa marcar algo com ela, um jantar, ou um cinema. Sempre me falou tão bem dela que fiquei curioso. Mas claro, tudo, se você não se importar...

Clóvis meneou a cabeça, sugerindo que não se importava.

- Eu juro que não me importaria, mas infelizmente não tenho mais o número de telefone dela. Fizemos questão de cortar qualquer tipo de relação na última vez que nos vimos. Agora é sério, Augusto, tenho de ir.

Augusto agradeceu a “boa vontade” de Clóvis e deu-lhe um abraço brusco, fazendo-lhe derrubar o pacote de rosquinhas.

- Não, não tem problema – Clóvis adiantou, apanhando o pacote do chão e dando uns tapinhas para tirar a areia.

Os dois finalmente tornaram a seguir seus rumos. Clóvis, aliviado por ter se livrado de uma das pessoas mais inconvenientes que ele já conhecera.

“Lar, doce lar”, ele pensou ao entrar e fechar a porta de sua casa.

E não era força de expressão. Era mesmo um lar com açúcar para todos os lados. Não só açúcar, mas, corantes, aromas, conservantes, sabores artificiais e tudo mais que engordasse e fizesse mal.

Clóvis pegou o controle da TV, que tinha os botões todos desbotados, engordurados pelas suas mãos sempre impregnadas de comida, e ligou a televisão. Nada de atrativo no ar, porém, sempre era mais prazeroso comer em frente à tela da TV. Esse era o ambiente ideal para se acomodar, relaxar, afundar na poltrona e ser acometido por uma sonolência que não o deixava dormir, somente administrava um estado apático que ia se desdobrando em uma linha de tempo inimaginável. A passividade ia se multiplicando, se abrindo, como um leque. Tomar qualquer atitude, que não fosse comer e manter os olhos entreabertos, era sofrivelmente difícil. Por isso mesmo, para desocupar a bexiga, ele esperava horas e horas. Já passou por sua mente usar uma sonda para as necessidades fisiológicas. Acabou desconsiderando esse pensamento bobo.

Na sala, havia um grande espelho arredondado, com uma bela moldura de madeira, talhada à mão. Herança de sua bisavó. Sem conseguir distrair-se em frente à televisão, Clóvis olhou para o lado, viu parte de seu rosto refletida no espelho. Ele não lembrava ser tão rechonchudo assim. Afastou-se mais, com o intuito de se ver completamente. As maçãs do rosto arredondadas e lustrosas brilhavam com o pouco de sol que entrava pelas frestas da janela. Clóvis chegou mais perto, e mais perto... e mais perto. Parecia enorme. Cada vez mais enorme, ao contrário de seu pênis. Ele lembrou-se, sem complexo algum, mas isso ocorreu em sua mente. Não pôde evitar. Baixou as calças. Lembrou-se há quanto tempo não fazia sexo, há quanto tempo alguém não o desejava. Procurou, espremendo a mão por entre os pelos pubianos até achar o pênis. Clóvis não tinha uma boa ferramenta, mas também era mais romântico do que isso. Até considerava o sexo um supérfluo.

Vestiu-se e foi ao computador. No lixo eletrônico, havia um e-mail, uma dessas mensagens em massa, sobre amor. Falava de pessoas solitárias encontrarem outras pessoas solitárias, marcarem encontros, terem uma vida social e afetiva normal. No e-mail também, uma montagem malfeita, com galãs de sorrisos esbranquiçados e lindas mulheres também sorrindo.

Clicou no centro, em um dos casais felizes da montagem. Um site se abriu e ele entrou no chat. A maioria dos participantes eram homens, que, empolgados, falavam sem parar. O texto corria rápido na tela e tudo formava uma grande confusão visual.

Lá pelo final da lista de usuários, Clóvis encontrou uma moça que usava o apelido de “Patrícia Abajur”.

- Patrícia Abajur? – perguntou ele, aproveitando a deixa para iniciar uma conversa.

- Sim. É apenas um trocadilho, no sentido que eu passo todo o tempo acessa...

- Engraçado o seu trocadilho – disse, enquanto fora do mundo virtual tudo transmitia o mais absoluto e inabalável silêncio.

- Talvez ele seja mais enigmático do que engraçado, já que você é a sexta pessoa que me pergunta isso hoje.

Clóvis estendeu-se a pensar no que iria responder já que seu pressentimento dizia que a conversa poderia tomar um rumo não muito confortável.

- Me desculpe – Pronto. Era simples e objetivo. Mostrar que sabia se retratar, mesmo tratando-se de uma futilidade, era um bom sinal.

A conversa foi seguindo, morna, constante, mas ainda com um fio de esperança unindo as palavras dos dois. Patrícia estava enfadada, porém, dessa vez, não encontrou pela frente um maníaco sexual.

As velhas e redundantes perguntas de sempre brotavam sem sentido algum. Eram apenas formalidades esperando algo mais interessante, só que Clóvis insistia:

- O que você costuma fazer pra se divertir?

- Ah, não são muitas coisas, mas quando tenho tempo, costumo ir a algumas boates aqui por perto – respondeu Patrícia, quase de imediato.

Antes que Clóvis pudesse formular uma próxima pergunta, ela disse:

- E você, o que faz para se divertir?

“Eu, o que eu faço para me divertir?”, pensou. “Hum... São tantas coisas, afinal, eu sempre estou de folga.” “O que eu posso dizer que faço para me divertir? Videogame, não, não... Pôquer, também não... Nem dormir, nem praguejar contra os vizinhos. É mais difícil do que eu imaginava... Já sei! É isso!”.

- Eu sempre vou a alguns restaurantes que conheço. Gosto de experimentar as novidades – escreveu com confiança.

- Então você se interessa por gastronomia?

- Digamos que sim.

Isso significava ganhar alguns pontos positivos com Patrícia. Pelas experiências que tivera na vida, ela preferia homens com sensibilidade na cozinha. Quase sempre eles a entendiam melhor e é fato que ela praticamente venerava os que chegavam a lhe oferecer pratos requintados por eles mesmos preparados.

- Então eu posso passar na sua casa por volta das nove da noite?

- Combinado. Às nove então – confirmou Clóvis.

No primeiro contato virtual que tiveram, os dois já fizeram questão de marcar um encontro. Ambos não se mostraram como realmente são. Suas fotos ficaram omissas, enquanto as palavras e o mistério de imaginar quem se encontrava por trás daquelas mensagens ditavam o tom daquela conversa.

Clóvis mentiu copiosamente, tomando de exemplo para sua aparência fictícia os modelos másculos, esbeltos e de sorriso reluzente do e-mail que recebera. Patrícia forjou a descrição de sua aparência folheando rapidamente algumas revistas voltadas para o público feminino, recheadas por lindas celebridades de biquíni, exibindo suas boas formas, que se tornavam ainda mais atrativas com o reparo de imperfeições através do Photoshop.

Os dois mentiram. Clóvis mentiu para Patrícia, Patrícia mentiu para Clóvis. Absorvidos pelo próprio escapismo, não se deram conta que também poderiam estar sendo enganados.

Tudo se manteve como dito. Dez minutos para o excepcional encontro. Clóvis terminava de arrumar a mesa da sala, dispor os pratos e os talheres. Jogou pela janela duas rosas murchas que permaneciam num vaso sobre a mesa e as substituiu por falsas – flores de plástico que imitavam margaridas. Checou o cheiro das axilas, o excesso de suor. Mais uma vez, foi ao espelho. Deslizou a mão sobre a velha moldura de madeira do espelho, como se aquilo fosse um amuleto da sorte.

Enquanto isso, Patrícia já havia terminado de se aprontar. Dessa vez, fora mais rápida do que o de costume, porém, mais caprichosa. Em frente a uma pequena penteadeira que, em relação ao seu corpo, parecia ser feita para anões, ela virou o pescoço, jogou o cabelo para o lado e tirou o excesso de batom. Apagou a luz e voltou a ligar para ver que horas eram num relógio fixado muito alto, quase tocando no teto. Os ponteiros mostravam oito e quarenta e cinco da noite, entretanto, aquele relógio estava atrasado. No horário, já passava de nove da noite.

Clóvis, esperando ansioso para abrir a porta e conhecer a linda patrícia que não existia, parecia bastante temeroso. Fechava os olhos e imaginava aquela mulher perfeita, de olhos que pareciam mais esmeraldas, cabelos sedosos, esvoaçantes e vivos, de lábios macios, fartos e sensuais, da pele límpida como o mais alvo leite e tremia-se dos pés à cabeça só de pensar. Principalmente quando pensava sobre o constrangimento da iminente rejeição que ele poderia sofrer por parte dela. Que fosse sorriso, rejeição, e um pedido de desculpas como na conversa anterior àquela situação. Que quando ela o visse, não sentisse náuseas piores do que quando se farta de comida em alto-mar e se vomita a cada oscilação da navegação. Como fazia sempre, Clóvis pensou longe. Imaginou uma cena perturbadora: a campanhinha tocava, ele corria em disparada para atender. Assim que abria a porta, era atingido por um jato multicor, viscoso e ácido, saído direito dos lábios voluptuosos de Patrícia. Ela o olhava por alguns segundos naquela situação grotesca, como quem sente pena, não por aquilo ter ocorrido, mas por alguém, como ele, Clóvis, ter nascido, e vai embora, com o batom intacto. Clóvis, alucinado e agindo como um animal, passa a lamber-se desesperadamente, sorvendo aquele fétido vômito que ensopava toda a sua roupa.


Patrícia percebeu que os ponteiros do relógio não se mexiam mais.

- Maldito relógio! – ela gritou, e foi correndo procurar o de pulso.

Quando chegou à sala, o botão que fechava a calça arrebentou-se e saiu quicando pelo chão escorregadio até esconder-se embaixo do sofá. Patrícia não percebeu e acabou procurando por toda a sala, até mesmo em um quarto contíguo, na esperança de encontrá-lo e pô-lo de volta no seu lugar. Só assim ela poderia conseguir dar um jeito naquela calça, que agora estava escandalosamente aberta. Procurava rastejando, de quatro, com seus seios descomunais quase arrebentando o sutiã e todo o resto de seu corpo morbidamente obeso sofrendo a lei da gravidade. Em pouco tempo, estava exausta, gotejando suor pelo chão. Foi aí que ela lembrou-se da caixinha de costura. Levantou-se, foi ao quarto e a tirou da penteadeira. Mas lá só havia alguns trapos, linhas de costura e agulhas velhas. Patrícia desejava muito usar a calça nessa noite, sobretudo porque a grande maioria de suas roupas já não lhe cabia mais. “Como eu pude não perceber isso, como eu pude?!” repetia para si mesma, a todo o momento. A solução desesperada que ela encontrou era: engolir a barriga.

Patrícia inspirou com a força que podia, até sentir dor nos pulmões. Manteve presa a respiração, e costurou, costurou o mais rápido que pôde o botão daquela calça. Deu voltas e voltas com mais linha para assegurar que aquele constrangimento não lhe aconteceria logo mais. Com a face arroxeada, ela finalmente solta o ar de uma vez e se repreende, no mesmo instante, sendo mais comedida, já que ainda não estava tão convencida sobre a segurança da calça.

Clóvis, já não mais atordoado pelo seu delírio pré-encontro, lúcido e menos nervoso, se encontra bastante indignado. Sente-se humilhado, passado para trás, já que tem a plena certeza de que Patrícia o enganou. Aquela ansiedade toda o matava, o matava a cada segundo. Patrícia não deveria ser tão ingênua assim em achar que encontraria um cara perfeito num bate-papo de internet. Era óbvio que não. Como as outras, ela só desejava mesmo lhe passar a perna, pregar mais uma peça e tirar proveito disso. Deixar o gordinho, esperando em casa. Deixar o gordinho fazendo receitas culinárias de revistas. Deixar o gordinho apreciando aquele banquete e sem poder experimentar um pouquinho sequer. Clóvis deu um soco no ar. Comemorava a bela ideia que acabara de ter. E por que não? E por que não comer aquilo tudo já que a vadia não ia mesmo aparecer. Era o pensamento que lhe seguia, contudo, algo ainda refreava seus instintos. Foi apenas questão de tempo para que esse algo dissesse adeus. Clóvis rendeu-se ao banquete que havia preparado. Não era a melhor coisa que comera na vida, mas, ainda assim, era muito, era quente e descia pela garganta cheio de volume. Em pouco tempo, fartou-se, porque. em pouco tempo não sobrara mais nada. Recostado no sofá da sala e olhando fixamente a mesa revirada, Clóvis parece ter acabado de atingir um orgasmo. Seu prazer é tão imenso e aterrorizante que seus lábios parecem carregar um sorriso, involuntário que se convulsiona por instantes. Naquele momento, ele estava totalmente entregue, desprovido de qualquer força para tirá-lo dali. Certamente iria passar a noite naquele local, estendido no chão, não fosse o toque estridente da campanhinha.

“Meu Deus! Meu Deus!” ele gritou com a mão frente à boca.

Clóvis estava desesperado, descabelado, ensopado. Levantou-se bruscamente quase desfalecendo e correu ao espelho. Na esperança de contornar a situação, ele abotoou como pôde a camisa e tentou corrigir a posição da gravata. Passou rapidamente a mão entre os cabelos e borrifou um perfume velho na nuca, no peito e nos braços. Voltou para sala gritando: “Já vou! Já vou!” e recolheu os pratos e talheres de cima da mesa. Clóvis olhou para porta, respirou fundo e enxugou pela última vez o suor persistente em sua testa. Ainda havia uma esperança. Ainda podia ser um inquilino para reclamar de algo. Ainda, quem sabe, era tempo de ele lidar com o de costume.

- Olá! – ansiosa, Patrícia disse, com a porta por ainda se abrir totalmente.

E Clóvis terminou de abrir a porta.

- Olá! – apenas replicou.

Ela sorriu com uma cara de quem acaba de sofrer uma tremenda frustração.

- Você deve ser a Patrícia – disse Clóvis.

Era claro que sim. Claro que era Patrícia. Só mesmo o pensamento sobre o possível inquilino para fazê-lo perguntar isso.

- Sim, sou eu – e ela perguntou em pensamento: “Você deve ser o Clóvis, certo? Porque não era nada do que eu imaginava”.

O choque ocorrido os deixou perplexos. A surpresa em descobrir a mentira do outro, fez com que a situação incomodasse mais ainda. Clóvis não queria uma gorda. Patrícia não queria um gordo. Por mais que os dois fossem e soubessem como é não fazer parte do padrão de beleza imposto pela sociedade, eles não se viam como gordos. Não carregavam consigo a imagem da qual os outros tinham deles.

Clóvis, mesmo decepcionado, tentando se mostrar gentil, disse:

- Por favor, entre.

- Não – disse Patrícia, com a cara cerrada.

- Mas... – Clóvis balbuciou, enquanto tentou segurar seu braço.

- Eu não posso aceitar o convite de alguém que mente tão descaradamente.

- Eu, eu minto descaradamente?! Primeiro aceite os fatos. Nós dois enganamos um ao outro. Eu só queria alguém que... Alguém que me fizesse feliz, que entendesse meus sentimentos e que gostasse de mim como eu sou por dentro.

Era um clichê. Patrícia já estava cansada de ouvir coisas daquele tipo nas novelas. Mas algo lhe comoveu. Algo com um quê de sinceridade.

- E quem lhe disse que não é esse também meu pensamento?

Foi aí que ela entrou. Deu dois passos e entrou. Sentiu ainda o aroma da comida que Clóvis havia feito e que não mais estava lá. Aproximou-se de Clóvis e largou suas mãos em seus ombros. Os dois entreolharam-se ardentemente. Os joelhos de Clóvis tremiam, mas Patrícia não notou. Ele pensava sobre o quanto ela era feia, mas, mesmo assim, já sentia uma estranha atração unindo seus corpos. De nenhuma parte existiam mais palavras para narrar aquele momento. As bocas se tocaram, os corpos sucumbiram e de olhos fechados, os dois pareciam dançar valsa, pura e sincronizadamente. Sem perceber, já estavam do lado de fora do apartamento. Aquela sensação única de arrebatamento só podia ser classificada como amor. O amor chegou, como que varrendo toda a frustração perante à vida durante anos e anos embora. O amor de peso – não só como força de expressão – vendou-lhes de uma tal forma que não fora possível ver a escada nem segurar em seu corrimão. Patrícia embaixo, Clóvis em cima. Isso teria duplo sentido, não fosse o momento tão sublime. Olhos vidrados, de morto. Um fiapinho de sangue e saliva escorrendo pelo canto da boca. Praticamente estranhos, e agora, ligados eternamente. Seriam descobertos amanhã quando o faxineiro levasse seu esfregão até ali.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Encefalinho


O médico chega para a família e diz: "Tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. A ruim é que ele morreu, sinto muito. A boa é que eu tenho um gibi pra vocês..."


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Esses quadrinhos foram criados pela Associação Brasileira de Transplante de Orgãos. A intenção é boa, claro: esclarecer e auxiliar, mas o resultado final ficou de um humor negro sem tamanho.

Créditos para o Boteco Sujo. Vi os quadrinhos por lá.



sexta-feira, 10 de julho de 2009

À la...


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Será que Fátima Bernardes começou a incorporar a sua versão criada pelo Skylab?

Não entendeu? Procure pelo som "Fátima Bernardes Experiência", de Rogério Skylab.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Molko ia ficando cego


Brian Molko, vocalista e guitarrista do Placebo, abandonou o palco junto com a banda depois de alguém ter jogado uma tesoura da platéia.

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Fonte nada confiável: Ig Música

Bom, aposto que não houve má intenção, só queriam o visual de antes.

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Alinhar ao centro

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Estômago


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Um filme saboroso, mas não totalmente digerível. Este é Estômago. Interessei-me pelo longa depois de ter visto João Miguel (o ator protagonista) comentando sobre ele. Bom, só de saber que João Miguel é protagonista é o suficiente. Admiro muito o seu trabalho, apesar de ainda não ter conhecido um papel seu que não seja construído em torno do nordestino, aquele típico caipira, de sotaque carregado, meio ingênuo, meio malandro... Mesmo assim, ainda gosto do João, e tenho confiança de que ele é mais versátil do que isso.

Como bem mostra o poster do filme, a história é intercalada com cenas de Raimundo Nonato, interpretado por João Miguel, em liberdade e encarcerado. Nisso, vamos conhecendo o personagem, seu universo e sua ligação com cozinhas e grades. Raimundo Nonato é todo engraçado, cheio do humor desconfiado. Coitado, um matuto na cidade grande, buscando um mundo de coisas e encontrando duas coxinhas de galinha gordurosíssimas.

A primeira cena é assim. Depois de engolir com todas suas forças a nada agradável refeição, Raimundo dorme no botequim, e quando tenta ir embora sem pagar, é barrado pelo dono, já de cassetete na mão. Quando não se tem dinheiro, o que resta a fazer? Lavar os pratos. É assim que nosso personagem passa a se infiltrar nas cozinhas.

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Passado algum tempo, quando o dono do botequim percebe que Raimundo leva jeito pra cozinha, faz uma oferta nada tentadora: um emprego de cozinheiro e uma pia pra lavar. Em troca, um quartinho nos fundos e um rango pra matar a fome. Ele aceita. Vai fazer o que, né?

A sorte grande esbarra em Raimundo. É o s
eu Giovanni, dono de um restaurante italino, que, reconhecendo o tato que o rapaz tem pra coisa, o convida pra trabalhar no seu restaurante, agora com salário e tudo. No meio disso, um amor já fazia parte da vida de Raimundo, era Iria, a prostituta fisgada pelo estômago e ouriçada pela coxinha.


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O filme é indiscutivelmente bom, a história é agradável, o tema musical é original e se encaixa bem com as cenas, apesar de ser classificado como drama, a comédia é que predomina durante o tempo do longa. Em algumas ocasiões, Estômago bem que me lembra o cinema europeu.

Eu não penso que isso seja um ponto negativo, pois, como disse no início, o filme é saboroso, mas não totalmente digerível, pois há uma guinada na história, e isso não acontece na metade, mas sim nos instantes finais. Há um choque, uma discrepância, entre o Raimundo Nonato que se forma em nossa mente e o que é apresentado ao final. O ritmo e a narração mudam, e a gente até tem a impressão de estar assistindo a outra obra. Mesmo assim, é recomendadíssimo, e de maneira alguma parecerá frustrante.

Estômago é um dos bons e atuais filmes do cinema brasileiro.


segunda-feira, 29 de junho de 2009

Hum...



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Nome sugestivo pra uma rede de relacionamentos, não?

Pelo o que eu entendi, você cria seu perfil, que é representado por um boneco feito de míseros pixels que sai pra curtir uma balada de pixels.

Ainda tem faixa etária indicada: dos 13 aos 17 anos.

Como mostra a página inicial:

Habbos gostam de...
biquini
branco
cachorro
carro
espiao
feliz
futebol
guia
habbo guia
irado
jeans
latino
mago
mergulho
naruto
noite
poderosa
praia
rock
sim

Existe coisa mais chata do que isso?

o site: www.habbo.com.br


sábado, 27 de junho de 2009

Acho que esse voa


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Há uns dias escutei o nome de um filme nacional que me chamou a atenção: "Besouro". Acabei não assistindo o trailer, mas um amigo me enviou o link do vídeo no YouTube e a surpresa foi boa. Fazia tempo que eu não via algo tão ousado e interessante no cinema nacional. Pelo que se pode observar, o longa traz um herói genuinamente brasileiro, capoeirista, mas não cai na mesmice e inventa, introduzindo coreografias de kung fu, estas elaboradas por Huan-Chiu Ku, o mesmo de "O Tigre e o Dragão", "Máquina Mortífera 4" e "Kill Bill". Ou seja, um nome de peso.

Além disso, não esqueceram do misticismo e das tradições africanas. No trailer aparece até o incrível exu.

É assim que, nesse primeiro contato, "Besouro" parece extremamente original e pronto para o sucesso.

Veja o trailer: