domingo, 24 de maio de 2009

Dias de febre


Vez ou outra eu me supero. Agora, quase bati meu recorde (aliás, qual é mesmo?). Sexta-feira à noite, voltando pra casa, já sabia: "vou ficar doente", eu disse. Dito e feito, desde então permaneci em casa, doente. Sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta. E só então na sexta eu me senti capaz de comprar pães fora de casa, mas não fui, claro. A garganta me matou esses dias, trouxe a febre junto. O mais chato é ter de ficar escutando sua rouca voz se esforçando pra sair.

Em condições normais eu já pareço um zumbi, rastejando como dá pela casa, procurando cérebros de gelatina, verificando se esqueci parte do meu em algum lugar. Na semana que passou, além de zumbi, fui mais vampiro também. Luz do sol! Não! Não!!! Eu quase a não vi. Pelo menos assim retardo o envelhecimento. Reparei também que, no meio do tratamento à base de mel, ninguém me ofereceu alho. Ainda bem! Odeio. Mas meus dias de sopro até que não foram embalados pelos vampiros do cinema, da música, ou da literatura. Só ontem, quando eu já tinha saído do caixão, é que curti um cineminha vampiresco: Fome de Viver (The Hunger), estrelando David Bowie, Catherine Deneuve, Susan Sarandon, direito de 1983.

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Casalzinho charmoso do filme

É um bom filme, misterioso, sexy, com um clima poético sobre o tema vampiro e vida após a morte. Segue um rumo diferente dos demais, deixando de lado a carnificina habitual, as mocinhas fugindo dos vilões em ruas desertas, as estacas de madeira e, até mesmo, as presas afiadas dos sugadores de sangue. Ontem eu não era um dos melhores espectadores, mas assisti até o final, entre uns cochilos e outros. Adoro a cena inicial ao som do Bauhaus



Mas nem só de vampiros se vive eternamente. Eterno também é John Wayne, e, entre seus filmes, selecionei um mais propício, adequado à situação. Com a febre me congelando, assisti nesses dias Geleiras do Inferno. O filme tem um tom bem inocente, mostra o companheirismo a qualquer custo, a amizade sincera. E é com base nisto que um grupo de aviadores parte para resgatar Dooley (Wayne) e seus amigos, perdidos em alguma geleira do Canadá.

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Resgatei também uma lembrança que tinha sobre uma banda. Lembro-me de ter visto um vídeo clipe deles em algum programa de TV, me interessei, mas as informações na internet eram escassas.

Xeretanto pelo YouTube, no que, eu não me lembro, um vídeo relacionado apareceu, e o nome era familiar: Tom Bloch. Baixei o disco. Eu ainda estou amaciando o ouvido, mas sei que gosto, e já tenho músicas preferidas. Nessa Casa e O Amor. Também no mesmo disco homônimo, há uma versão de Fala, hit dos Secos & Molhados. A canção é indiscutivelmente linda, e o Tom Bloch conseguiu algo diferente com sua interpretação, um tom fantasmagórico, sinistro, mas ainda seguindo a original.

Assistam o clipe de O Amor:




Agora só me resta torcer para que a febre fique longe de mim por muito, muito tempo.


segunda-feira, 11 de maio de 2009

Abelardo


Uma, duas, três, quatro, cinco. Cinco correntes Abelardo levava no pescoço. Todas fruto da safra de quando ele era cafetão. Bons tempos aqueles, mas, assim como nas máquinas caça-níqueis, quando se está ganhando, há o momento em que se deve parar, senão, pode-se perder tudo. E foi exatamente isso que ele fez. Parar e curtir a vida. Poder relaxar com um drinque na mão sem se preocupar se uma puta adoeceu, se a Lorena quer matar a Cláudia ou se a Flávia prefere trabalhar com o Loyola. Sem mais acordar no meio da noite achando que alguém deseja matá-lo porque uma de suas garotas faz ponto em uma área que já tem dono.

Aos 40, mas com corpo de 30, Abelardo só quer saber do baile de gafieira às sextas e dos ensaios com sua banda de jazz aos domingos. O resto dos dias da semana, ele vai à caça. Vestido com cetim e usando um perfume que irrita os narizes mais sensíveis, checa sua performance em frente ao espelho antes de sair de casa. Para Abelardo, seus trejeitos são sua arma fundamental. Todos os seus movimentos são calculados e fazem parte de um jogo de sedução que começa antes mesmo de ele pôr os pés fora de casa. Tamanha dedicação é o segredo da bonança com o que mais lhe dá prazer: mulheres feias.

E quando digo feias, não são desajeitadas ou mal-tratadas, são cronicamente feias. Mulheres que parecem um arbusto ou vindas de outro planeta. Abelardo já teve muitas mulheres. Feias, bonitas, comestíveis. Ele já provou de todas. Mas foi enjoando gradativamente da maioria, da maioria de beldades que passava por sua mão. Foi aí então que, em resumo, sobrou o que inconscientemente ele mais primava.

Eram as feias, libertinas, que em sua experiência de vida sempre foram as que mais se entregavam. Sempre foram as que iam às estrelas sem necessitar de um anel cravejado de diamantes ou de um carro importado. Essas gozavam de verdade. E tal entrega, plena e singular, fez Abelardo não só amar cada uma dessas mulheres, como também respeitá-las de uma forma inteiramente nova para ele.

A sua veneração pelas feias, quase sempre mal-amadas, o inspirou a escrever sobre elas. Mesmo que de forma superficial, entre aquelas linhas rabiscadas num pequeno livro de anotações, ele tinha a recordação de cada uma. Da Anita, da Alstofa, da Raimunda, da Ofélia, da Margarete, da Zilú, uma velhinha tarada de 66 anos. Da Paulicéia. Ah! e como esquecer a Paulicéia? Aquela mulher marcada pelo tempo, misteriosa e de olhinhos tão pequenos por trás daqueles óculos fundo de garrafa. Abelardo a encontrou num dia sem sol, sentada no chão, chorando como uma louca e com os cabelos crespos desgrenhados. Ele chegou de mansinho, com todo aquele cavalheirismo e ar de quem tem todas as respostas para a vida. Foi aproximando-se, perguntando, observando e conseguiu por fim arrancar a história toda de Paulicéia. Seu marido, um canalha sem proporções, a traía há dez anos e, não contente, bêbado, ainda a espancava como quem bate em um saco de areia. Cansada de tanto sofrimento, Paulicéia lutava para conseguir divorciar-se, mas ele, sobrevivendo do trabalho da mulher, a ameaçava de morte constantemente e ainda prometeu ficar com a guarda dos três filhos do casal, alegando que ela sofria de problemas mentais.

Paulicéia poderia ter pedido a ajuda de um profissional como Abelardo, acostumado com a guerra das ruas e experiente em como dar um belo sumiço em alguém. Mas ela deixou se levar pelos sentimentos. Nada fez para encobrir sua ação equivocada. Simplesmente saiu às ruas com as mãos ensangüentadas, depois de desferir 20 golpes com a tesoura que usava para cortar tecidos, por todo o corpo do marido. Foi naquela situação que Abelardo encontrou Paulicéia lastimando-se por agora saber que não veria os filhos durante muito tempo.

Com um afago, tudo foi se acalmando. As mãos grandes e negras de Abelardo apalpavam Paulicéia e as pontas dos dedos corriam em volta da aureola de seus seios caídos. E então, ela foi convencida a ir a um motel.

Paulicéia percorria a corda bamba que delineava o campo da sanidade e o da loucura, e em todo o tempo que passou com Abelardo, ela foi um misto dos dois. Ele pouco se importava, mas, por via das dúvidas, quando escutou o relato da boa moça que matou o homem mau a sangue frio, tratou logo de tirar a arma da gaveta e pôs do seu lado, como uma garantia de que aquela noite de amor não fosse demais para ele.

Abelardo nunca mais viu Paulicéia, porém, soube que ela estava presa, cumprindo pena por ter assassinado o marido. Neste momento acabava a história dos dois. Em um próximo, começaria outra e outra e outra história envolvendo Abelardo e as mulheres por ele seduzidas. Seria assim até o fim das contas.

Podia parecer uma missão divina ou então a temporada de caça às feias, mas não era nada disso. Era simplesmente o que Abelardo sentia e necessitava para apagar seu fogo. Eram tantas, tantas mulheres – uma em cada noite – que a memória insistia em falhar, mas a de ontem ainda estava fresca, tanto, que lhe umedecia os lábios.

Cíntia, olhos esbugalhados, mãos peludas, testa vincada, braços compridos e grossos, dentes tortos. Abelardo mal conseguiu segurar o que havia por baixo de suas calças quando a viu. Seus lábios umedeceram da mesma maneira que acontece quando agora pensa nela.

Apoiando-se com os ombros em cima da mesa, ela devorava aquele sanduíche enorme, abarrotado de ingredientes que pulavam para fora do pão. Abelardo foi direto e sentou-se bem em frente à Cíntia. Ela, apavorada com aquele estranho que, calado, não parava de olhá-la, tremia, sem saber o que significava aquilo. Abelardo, por sua vez, foi correndo a mão em cima da mesa de mármore, brincando com os dedos, até tocar em Cíntia.

“Será que nós dois poderíamos ir juntos a um local mais reservado?” ele disse. Ao invés de um sim, um não, ou um talvez, Cíntia tossiu. Tossiu como um porco em meio ao abate. Engasgada, sufocada e roxa, ela pedia ajuda com o olhar desesperado. Todos em volta olharam, mas ninguém tomou nenhuma atitude. Exceto Abelardo, que a qualquer custo iria salvar sua futura amante daquela noite. Pôs-se a golpear a robusta mulher até que aquele corpo estranho que a fez engasgar saísse. Depois de muito tentar, lá estava a rodela de tomate que voou pela garganta de Cíntia. O tomate assassino.

Aliviada e feliz por ter sobrevivido ao episódio traumático, Cíntia sentia um enorme sentimento de gratidão a Abelardo. Este, era corroído por um turbilhão de emoções, todas elas tangidas por um tesão arrebatador. Era agora ou nunca. Era a hora de colher a bonança por ter sido um herói.
“Eu quero ter você entre os meus braços, entre os meus lençóis. Eu quero ter você esta noite” disse Abelardo com o olhar mais brega deste mundo, e com o coração mais aberto também.

Sem pestanejar e com lágrimas no canto dos olhos, Cíntia disse que sim, como quando se aceita um pedido de casamento ou então quando se sobe no cavalo do príncipe encantado.

Foram os dois a mais uma noite de amor para Abelardo, a uma exceção para Cíntia. Foram os dois copular como animais ensandecidos. Foram os dois amar como os mais puros gênios da poesia.

Na mesma lanchonete, uma linda e bulímica mulher que comia pratos gordurosos, como todos que eram servidos ali, estava prestes a se dirigir ao banheiro para lançar tudo descarga abaixo, quando ficou pensando no que acabara de ocorrer. Em como Abelardo, aquele homem grande, sedutor, negro, e, provavelmente, bem dotado, tinha agido há pouco.

Ela, uma mulher frígida, que nunca havia se apaixonado ou sentido tesão de verdade por alguém, agora sentia as duas coisas por aquele homem que ali passou. Glória, como era seu nome, sorriu introspectivamente, com a calcinha molhada e já certa de seu êxito em conquistar Abelardo. Bonita e rica, ela podia conseguir qualquer coisa que desejasse, ou pelo menos era assim que pensava. Sobre isso, não podia ser diferente: Abelardo seria seu, custe o que custar.

É manhã. A campainha da casa de Abelardo toca. Estranho, já que ninguém costuma ir até sua casa. Ele vai, desconfiado, atender. Pela vidraça fosca da porta, enxerga com dificuldade algo que parece ser uma silhueta feminina.

Ao abrir a porta, lá estava ela, aquela mulher estranha chamada Glória. Com um chapéu vermelho e um casaco de pele de raposa, ela se apresenta:

“Olá. Meu nome é Glória Alívida”.

Abelardo, com sua extensa ficha de conquista, nunca havia visto mulher de tamanha beleza. Sentiu automaticamente enorme asco. Exatamente por isso, ele permaneceu imóvel, colado junto à porta, olhando para os luxuosos sapatos de Glória manchados de lama.

“Você não vai dizer nada?”, falou Glória, irrompendo o silêncio.

Abelardo refletiu por alguns segundos. Pensou em trancar a porta e ligar para a polícia. Sentia medo daquela mulher.

“Eu não estou me sentido confortável para falar, então, agradeceria se a senhorita pudesse ir embora.”

“Mas não, eu não vou embora”. Ela empurrou Abelardo da frente, fechou o guarda-chuva e entrou de uma vez.

“Mas... mas o que você está fazendo, sua maluca?!”, disse Abelardo, ainda desequilibrado do empurrão.

“O que eu estou fazendo? Não se finja de desentendido. Só estou conhecendo a casa do meu futuro marido, do pai dos meus filhos, do meu negro viril, do meu...”

“Escuta aqui, ou você sai agora mesmo, ou eu ligo pra polícia, ouviu bem?”
Ignorando o ultimato de Abelardo, Glória começa a inspecionar a casa:

“Há quanto tempo esta casa não é espanada? Veja só, eu passo meu dedo no corrimão da escada e encontro quilos e mais quilos de poeira...”

Abelardo corre para a saleta, vasculha a primeira gaveta do criado-mudo e retorna com algo nas mãos.

“Você prefere sair por bem ou por mal?”, ele ameaça, com um revólver em punho.

“Isso! É assim que eu gosto, garanhão! Bate em mim, bate! Atira no meu ombro e aprecia meu fluido vital espalhando-se pela tua casa. Eu morro, morro de amor se for preciso.”

Abelardo abaixa a arma e dá alguns passos para trás.

“Eu não te conheço, não sei de onde veio, mas, uma coisa é certa, você está totalmente transtornada! Vou ligar para a polícia e esta situação vai ter de se resolver agora.”

Glória foi escorregando as costas pela parede até cair de vez no chão, e passou a arranhar as unhas em um sofá que estava ao seu lado.

Abelardo ligava para a polícia e Glória conservava um estranho sorriso de prazer. Deleitava-se com a situação, inebriada por aquela obsessão que passou a sentir por Abelardo.

“Muito bem. A polícia vem aí. Espero que te levem pra bem longe daqui.”

Glória calou. Ficou como estava. Virou uma estátua, ao lado dos outros ornamentos, adornando a sala. Com o mesmo sorriso congelado, os olhos estáticos e fulgurantes, ela permaneceu contemplando Abelardo. Saboreando os últimos minutos que lhe restavam. Pelo menos por enquanto, pois ela tinha planos e mais planos para que aquele homem fosse seu. Para sentir aquele corpo negro, rígido, robusto, em meio a suas entranhas. E começou lá mesmo. Começou a pensar, a maquinar, como se seu cérebro fosse mais um computador a desarquivar, ler dados, achar combinações. Como se seu cérebro fosse um computador sobrecarregado, superaquecido, viajando na velocidade máxima que se podia chegar.

A polícia chegou. Ela não se deu conta. Não se deu conta, até o momento de que quando Abelardo explicou toda a história, um oficial tocou no seu ombro direito. Glória voltou ao mundo dos vivos. Apenas virou um pouco o rosto em direção ao do policial. Manteve a mesma expressão. Estava lá, e ficaria por dias a fio.

Assombrado, Abelardo viu aquela mulher doente, saindo acompanhada por dois oficiais. Eles a colocaram na viatura. Pelo vidro, o olhar tenaz, um míssil que persegue seu alvo. O pescoço quase completamente torcido e Glória hipnotizada.

Abelardo trancou a porta. Não conseguia mais dormir. Precisava relaxar hoje à noite. Precisava encontrar a mulher mais feia e carcomida da cidade para uma noite de êxtase.

Depois de passar algum tempo numa clínica psiquiátrica, Glória recebe alta. Saindo de lá, pega um táxi e desce algumas ruas à frente.

“É aqui mesmo, senhor”, ela disse.

Olhou com os olhos bem abertos uma luxuosa loja de artigos femininos. Viu aquelas maquiagens todas, aquelas lindas roupas de grifes famosas, aquelas joias que ofuscavam os olhos. Tudo aquilo pareceu uma grande incógnita quando o assunto era seduzir Abelardo. Acabou não entrando. Andou mais alguns metros. Empurrou a porta de vidro de uma loja de produtos químicos, comprou um frasco de ácido sulfúrico e foi embora com o sorriso de míssil.


domingo, 10 de maio de 2009

Hoje é o dia!


Hoje é o dia de celebração do Só Lhe Dão Solidão, porque, desde quando eu comecei a escrever aqui, precisamente em 16 de dezembro de 2008, uma terça-feira, hoje é o dia que sinto mais o significado desse título que dei ao blog. Todo o vácuo da falta de possibilidades e de querer qualquer possibilidade me bate na porta geralmente aos domingos. Estranhamente, hoje, veio mais cedo. E amanhã, provavelmente, tem a dose dupla.

Geralmente, estranhamente, provavelmente, haha.

Às vezes, acho que cometo uma experiência comigo mesmo. Eu me faço de cobaia para uma outra parte que quer passar. Crio coisas e deixo no ar um outro eu, que é o mesmo, e somente tem a necessidade de ser outro, para ser dois, não diferentes. Então, esse meu outro eu diz: "Tudo bem!", para o outro que se esforçou anteriormente. Num pequeno mundo à parte eu selo minha órbita e tento manter do lado de fora o indesejável.

Por falar em órbita, é engraçado perceber como a sua anda desritmada, cheia de passos para trás.

Como em uma festa que se preze não podem faltar os quitutes, já pus o meu na boca. É um Crocante da Garoto.

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Olha a roupinha dele aí.

Música também é indispensável, por isso, selecionei quatro clipes perfeitos para se sentar numa cadeira giratória, rodopiar uma só vez e parar. Todos usam câmera lenta e acertam em cheio o ritmo da sua órbita.

Com o passar dos dias, meses e anos, vou encontrando metáforas. Estou esperando o despertador me acordar.





Muse - Unintended





Radiohead - Nude





Beck - Lost Cause





Placebo - Follow the Cops Back Home


sábado, 2 de maio de 2009

Canções suspeitas


As cantigas de roda ou, simplesmente, algumas canções populares que caíam na boca das criancinhas, acabaram virando o trauma de muitas. E isso não se deve a eventos associados à época ou ao momento que essas "graciosas" canções invadiam os ouvidos dos pequenos. Não! A música em si já trazia algo de sinistro. Sabe, notinhas inocentes que dão voltas e se repetem à exaustão. Era na melodia que nós ficávamos atentos, mas as letras é que demonstram o tom mais pavoroso da coisa. A maioria sempre acaba em tragédia.

Duas que particularmente não me deixam nem um pouco feliz são "A Velha a Fiar" e "A Dona Aranha".





Curta produzido em 1964 que dá vida à canção.

"Estava a velha em seu lugar
Veio a mosca lhe fazer mal
A mosca na velha, a velha a fiar"

Pronto, e por aí se repete, sempre algo a fazer mal a outro algo, haha. Aposto que essa mosca queria mesmo era depositar seu berne.

"A dona aranha
Subiu pela parede
Veio a chuva forte
E a derrubou"

Já começa mal a dona aranha.

"Atirei o pau no gato-tô-tô
Mas o gato-tô-tô
Não morreu-rreu-rreu"

Esta é uma das mais conhecidas. Se você atira um pau no gato e ainda diz que ele não morreu, é porque teve a intenção de matá-lo. Se ele não morreu, passou perto. Certamente, o infeliz do animal continua a estribuchar no seu castigo eterno cada vez que cantam essa música.

"Boi, Boi, Boi
Boi da cara preta
Pega esse menino que tem medo de careta!"

Quer dizer, o garoto tem medo de careta e ainda mandam um boi da cara preta levá-lo pro além.

"Cai, cai balão
Cai, cai balão
Aqui na minha mão
Não cai, não
Não cai, não
Não cai, não
Cai na rua do sabão"

O governo não para de alertar com seus informes publicitários o quanto é perigoso sair soltando balões por aí. Nesta, o sujeito pretende no mínimo sofrer queimaduras de 3º grau ao ordenar que o balão caia na mão dele. Depois, volta atrás e muda a rota do balão, agora quer que caia na rua doa sabão, ou seja, praticamente um novo desastre daquele que aconteceu em Diadema, onde uma indústria de produtos químicos de limpeza foi aos ares.

"O anel que tu me destes,
Era vidro e se quebrou

O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou"

Ciranda, cirandinha! Ah, eu cantava bastante esta. Se o amor era pouco e já até se acabou, será que esse anel de vidro foi dado com uma má intenção? Certamente. Neste caso, vão-se os anéis e levam junto os dedos também.

"O cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada,
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada"

Esta já preparava as crianças pra violência doméstica que futuramente elas poderiam presenciar.

"Samba Lelê está doente
Está com a cabeça quebrada
Samba Lelê precisava
De umas dezoito lambadas"

Não basta estar doente, com a cabeça quebrada. Ainda é preciso dezoito lambadas, ou pancada, batida, golpe.

Enfim, exemplos não faltam.

Assim como as bonecas têm espaço garantido nos filmes de terror, bem que as cantigas de roda, canções populares adotadas como músicas infantis, mereciam mais espaço nas películas do tipo. Se lembram do "Um, dois, Freddy vem te pegar...?", pois é, um tiro certeiro para o clima sombrio.




E, tão popular na internet, o vídeo de sapateado de Goddess Bunny, um travesti vítima da poliomielite, musicado com "La Pequeña Araña".