domingo, 14 de novembro de 2010

Ô, GARÇOM, ME VÊ UM LETUCE, POR FAVOR


Letuce é uma banda de alma carioca surgida do encontro entre Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos. Em 2009 eles lançaram o seu primeiro álbum, “Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim”, pelo selo Bolacha Discos. Não há outra palavra para definir este trabalho que não seja sinceridade, nascida de uma despretensão, de uma naturalidade quase vegetal – apesar de ser recomendado tanto para vegetarianos quanto para carnívoros –, quase alface, quase plantinha das bonitas que a gente cuida achando que vai salvar o mundo.



E aí, o casal inspirado, como não poderia deixar de ser, compõe sobre amor. Não o amor Romeu e Julieta, nem o amor das novelas mexicanas, mas o amor que ri de si mesmo porque sabe que se ama. Numa jornada entre a remela no canto do olho, a barba por fazer, o cabelo desgrenhado, a mão suada, uma flor de plástico e um poema infantil escrito num guardanapo, Letuce invade o universo substancial do romance e exala intimidade pintada a afagos e autodescoberta.



Todas as faixas são amálgamas indecifráveis, mas nessa fuga do “Plano de Fuga...”, algumas pedem abrigo no bom humor, como “Dia de Carnaval”, outras, no cisco que entra no olho, como “Horizontalizar” ou “Binóculos”. Essa versatilidade – ou será indefinição? – faz o disco soar bem em todas as situações.

Não tenho namorada. Ando procurando minha alma gêmea no Chat Line, mas, definitivamente, é um som recomendadíssimo para os casais não-equídeos. Eficiente também se faz para você que quer descansar os ouvidos do black metal. Dias de viagem, ativos, meditativos ou cheios de fotografias também pedem Letuce. Seu caso é não fazer nada? Pode escutar. Ponham para tocar nos shopping centers, assim os transeuntes comprarão mais papelão, cola e tesoura sem ponta. É a inspiração. “Love is in the air...”



E se aqui despejo elogios, não é por que o disco tem duas ou cinco faixas que se destacam em relação às outras. Na verdade, o trabalho traz consigo uma característica interessante, as canções são niveladas, o que não pode ser tomado por algo tedioso, pelo contrário. É uma tarefa difícil escolher entre as 12 faixas – dois covers – as melhores ou preferidas. O disco vale ser escutado de cabo a rabo, e se você fosse cachorro, o rabo balançaria até o final. É uma meiguice quase sacana. É uma sacanagem quase meiga. Tudo funciona tão bem porque as músicas complementam-se, intercalam-se, muito pela identidade já bem delineada da banda que conta com arranjos flexíveis, ótimas sacadas, pitadas eletrônicas e voz linda, forte e serena de Letícia.



Como ilustra a capa, o disco é meio aquático, meio onírico, meio plasma do Geléia dos Caça-fantasmas, meio marola daquelas que você não quer que acabe nunca de bater. Não é para gente medrosa, afinal, é um disco perigoso, daqueles que você escuta sem compromisso e se vê sequestrado, num cativeiro poético, ok, mas tendo de ligar para todos os amigos para indicar o som e chorar um resgate.



Letuce anda tocando por aí. Uma das recentes apresentações da banda foi no festival SWU. É bonito ver algo verdadeiro e intimista ter espaço e poder falar para mais gente o que bate como identificação imediata. Gratidão é algo que sempre acontece comigo quando uma obra, em qualquer plataforma e época que seja, me faz bem e me inspira. O mínimo que posso fazer é contar o que não se pode conter. Desejo vida longa, mais discos e amor para animar. Go, Letuce, Go! Mas passem pelo Ceará...



Para experimentar:

http://www.myspace.com/letuceletuce

Para comprar:

http://www.bolachadiscos.com.br/portal/

EP com covers mais uma MP3 inédita:

http://www.4shared.com/file/RjRzUUTM/LETUCE_-_EP_COUVES.html

Classificação: 4,5 de 5 Andys