segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Trilhos


Não há como negar. Existem coisas que simplesmente crescem com você, que te habitam e, por mais que um dia você pense que as esqueceu, elas tocam a campainha e te encaram quando se espia pelo olho mágico.

Guardar com carinho suas lembranças e acalentá-las sempre que possível faz bem. Sou uma pessoa um pouco individualista, que gosta de espaço, de um tempo só para si. Acho a solidão capaz de nos focar em um ponto, de fazer-nos avançar em linha reta – este é o lado bom -, o lado ruim é quando ela simplesmente congela seus membros. Conviver nos dispersa, na maioria das vezes. Algumas delas para bem e outras para o mal. Tudo tem o seu preço.

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Muitos dos meus melhores momentos na infância brotaram de mim mesmo e não foram compartilhados com mais ninguém. Apesar de ficar feliz, vibrante e estar junto às demais crianças da minha idade, eu refletia inconscientemente o quanto é difícil compreender visões alheias, principalmente quando se nada contra a corrente que lhe foi doutrinada pela vida inteira. Eu pensava, desatentamente, e hoje permaneço pensando, mais racionalmente do que antes, obviamente, como é complicado abstrair-se e fazer do pensamento do outro o seu próprio, nem que seja por alguns instantes, alguns flashes. No meu quadro de opiniões, esse processo constitui uma das qualidades mais nobres do ser humano, a compreensão.

Um desses momentos íntimos que cresceram ao meu lado foi assistindo Conta Comigo (Stand by Me). À primeira vista, fiquei maravilhado com aqueles personagens e com aquela história simples contada de uma maneira tão franca. Eram garotos, como eu, apoiando uns aos outros para tentar sobreviver à selvageria do mundo, dos adultos.

Quatro garotos, um clube, uma casa na árvore e um dia para não esquecer. Eram elementos singelos reunidos, mas para que a veracidade dessa simplicidade possa vir à tona é onde encontramos o processo complexo.

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O filme foi reprisado à exaustão pela Sessão da Tarde, na Rede Globo, e sempre que era exibido, mais uma vez eu fazia questão de assistir. É um clássico. Superior a qualquer filmeco enlatado desses que teimam em passar. Adaptado de um conto de Stephen King, Conta Comigo demonstra outro lado do escritor. Diferentemente da maioria de suas obras, ele nos apresenta um drama com toques de aventura e comédia; fala sobre amizade, infância, transição, frustrações e aprendizado.

É um filme nostálgico por natureza pois, além de ser narrado por Gordie, um dos quatro garotos do grupo, também conta com esse sentimento de quem já o assistiu há muito tempo.

Não poderia haver melhor adaptação desse conto. Quando lemos e relemos, temos essa impressão de que tudo foi captado muito bem. De que tudo está onde devia estar, exceto em alguns pequenos pontos, mas isso é comum em toda adaptação. Não há como não perder substância em uma transposição desse tipo. Em compensação, se ganha outras coisas.

Na sua 1 h 26 min de duração, o longa caminha por toda faixa etária de espectadores provocando nestes sentimentos peculiares que só vêm à tona quando se tem o discernimento ou a ingenuidade necessários para isso. Talvez o grande mérito do filme, dono de uma linguagem suave, nada cansativa, onde tudo o que é apresentado se faz realmente necessário.
Recomendo quem ainda não assistiu, assistir, e quem já fez isso, rever o filme. É aquele tipo de produção que não pode ser subestimada.

“Treeeeeeeeeeeeeeeem!!!”.

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Info: River Phoenix, o ator que interpretou Chris, morreu tragicamente aos 23 anos, vítima de uma overdose. Ele era jovem e promissor. A ironia é que no conto de King, os outros dois personagens morrem (Teddy e Vern), mas no filme, apenas Chris tem esse destino.

3 comentários:

Sempre querendo saber disse...

Nossa eu adorava esse filme(na verdade qnd passa na sessão da tarde até hoje se tiver em casa assisto)
Gostei tbm de "Os Goonies" lembra?

Igres Leandro disse...

Oi, Luciana! Também adoro. Goonies? Como esquecer deles, né? Tenho aqui o DVD. Esses filmes todos têm um gosto bem especial!

Anônimo disse...

Igres, estou encantanda com o seu canto, esse filme marcou toda minha vida, e me lembro muito da parte dos trilhos, obrigada por rememorar isso! Um beijo.