sexta-feira, 24 de julho de 2009

O urubu do Fluminense


Rogério Tolomei Teixeira é o matador de passarinho, dono de urubu, apreciador de motosserra, é um cadáver. Rogério é Rogério. Rogério é Skylab. Todos esses são um artista inconfundível que confunde os desavisados.

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Escuto Skylab há algum tempo e sempre acompanho suas aparições por aí. Seja em programas de rádio, internet, em alguma revista ou na TV, ele se apresenta sempre o mesmo. Talvez seja fruto de sua admiração pela repetição. E essa admiração tem um fundo de verdade. Repetir-se, fazer a mesma coisa durante anos tão bem quanto se fazia antes é um mérito. É não perder o fôlego. Mas não é um desmérito também deixar de construir, de criar, incrementar, melhorar? É ironia de Skylab.

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Skylab foi um dos convidados a ter mais vezes o convite repetido de participar do Programa do Jô. E este foi o responsável por sua maior popularidade. Ser entrevistado varias vezes por um entrevistador que faz as mesmas perguntas não é fácil, mas essas perguntas, e as respostas, o jeito de respondê-las, é que criaram sobre a figura de Rogério essa capa de Skylab, que ajudaram a construir o personagem que não passa despercebido.

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Imagine só, de dia, um funcionário do Banco do Brasil (ex-funcionário), à noite, um artista performático, que abusa da estética trash, que une o erudito e o popular, que mescla Rock 'n' Roll com MPB - e mais do que isso -, que não tem nada a ver com as baleias, que adora porrada na TV, que lê Baudelaire e Mallarmé, que rouba música dos outros, que samba de um jeito diferente, como quem está apertado, que não conclui porra nenhuma, que tem uma irmã chamada Siva Maria, que fica acordado à noite e dorme de dia, que afirma: "para estar por dentro é necessário primeiro estar por fora.".

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O trabalho de Rogério é inexequível, pelo menos na maioria dos veículos, na maioria dos programas de TV, de rádio. A partir do momento que Rogério compõe sobre temas descreditados, execrados, perversos... humanos, em seu estado primitivo, ele mesmo assina sua marginalidade. Assina seu atestado de óbito, e o tiro final, promete, será no décimo e derradeiro álbum de sua carreira (pelo menos como Skylab). Automaticamente se incluirá na faixa "Samba (Eu quero saber quem matou)". Mas será que Skylab viveu? A resposta é sim, ele vive por aí, meio abissal.

Posso estar errado, e erra muito, mesmo quem conhece o trabalho de Skylab a fundo. É um ato falho. Eu, particularmente, por muitas vezes o acho contraditório. Mas é uma espécie de contradição estratégica, planejada, prevista. É uma armadilha invisível. Rogério diz que muito do que faz é compulsão. Arte? Talvez. Crítica social? Não. Mas o que eu vejo - talvez ludibriado pelos sentidos -, é sim também crítica social, é arte, e a compulsão eu não percebo. Talvez a intenção de Skylab não seja realmente isso, mas ele há de reconhecer que, suas letras, suas melodias, lacradas e compactadas, digitalizadas, que ganham os ouvidos dos outros, ganham também pernas próprias. E, depois de andarem por aí, vivem talvez o que o artista não calculou.

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Outro exemplo de contradição de Rogério Skylab é quando ele afirma com todas as palavras que nunca teve a intenção de embutir humor no que faz, que seus planos eram só abordar a tragédia. Bem, depois de narrar tantos absurdos, tantas situações surreais de tão reais, da maneira como é dita e interpretada, e falar seriamente, com tom de pesar, que não há humor naquilo, é de se rir, automaticamente.

Agora, o que é uma burrice de se dizer é que Rogério Skylab é humorista. Isso vem de gente curiosa e preguiçosa. Curiosa o bastante para checar "o que aquele cara faz?". Preguiçosa o bastante para não se inteirar sobre o trabalho dele. Não que desempenhar a função de humorista seja algo negativo, pelo contrário. O problema é rotular de maneira deturpada. O humor em seu trabalho é consequência e não objetivo.

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Rogério é cantor, compositor, escritor... e corajoso, muito corajoso por levar seu projeto à frente.

Algo que eu não poderia deixar de fora são as capas dos discos. Todas elas clicadas pela artista plática Solange Venturi, e todas muito boas também. Já teve mulher estuprada, amor das galinhas mortas, o feto humano deformado e seus parangolés, o sobrinho com cara da safado, Rogério travestido, Rogério fraturado, o cãozinho plácido na vegetação daninha e, do mais recente, o boneco com enchimento.

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Todas essas figuras só ajudam a compor o valor unitário que eu dou aos álbuns. Cada um parece lacrado em si mesmo, tornando as faixas elementos que compõe uma viagem única, quase como um filme, onde nós somos o projetor.

Agora eu aguardo ansioso pelo lançamento do seu segundo livro, dessa vez de contos, e também do primeiro DVD de sua carreira.


5 comentários:

Anônimo disse...

Cara, muito bom mesmo.

Uma das análises mais lúcidas que eu vi sobre o Skylab.

Muitos cometem os seguintes erros:

(i) ou colocam Skylab em um pedestal de gênio;

(ii) ou analisam a obra sem conhecer o mínimo suficiente, e ficam apenas nas aparências.


Seu texto foi direto ao ponto.

Rafael

Igres Leandro disse...

Obrigado, Rafael. O comentário é combustível pra gente.

Grato pelos elogios e pelo reconhecimento.

Abraço!

Anônimo disse...

Igres, acho que vale a pena colocar aqui o comentário do Skylab:

" rogerio skylab disse...

Rapaz, esse título é maravilhoso - rsssss. URUBU DO FLUMINENSE. É que não tem nada mais paradoxal do que isso (dá samba). Li teu blog. Você escreve muito bem. Sabe usar o portugues (coisa rara). As pessoas mereciam conhecer o teu blog."


Muito bom, dificilmente Skylab comenta.

Igres Leandro disse...

Pois é, Rafael. Eu tinha lido lá no blog dele. Obrigado por colocar aqui também.

Anônimo disse...

Li o que ele comentou sobre, hum... Acho que ele descobriu tarde o seu poder, HAHA, brincadeira.

Só quero deixar claro que eu descobri antes, beijos. HAHA